Um blogue de notícias, publicado por Miguel Marujo, jornalista com a carteira profissional nº 5950. O ponto de partida do repórter é Lisboa, mais como espaço físico onde se situa o jornalista, do que como único motivo de reportagem. Aqui não descobrirá a história ao minuto, mas uma tentativa de manter um olhar atento e, eventualmente, diferente sobre a Cidade. Envie-nos o seu alerta, a sua sugestão ou o seu comentário para mmarujo@gmail.com

10.6.07

O fim

Este blogue fechou com uma reportagem sobre desemprego, a 14 de Maio, dia em que deixei de estar desempregado, dia em que este blogue como espaço de notícias deixou de fazer sentido. Agradeço a todos os que acompanharam a aventura - e que me enviaram mil e uma pequenas dicas de coisas que se passavam nesta nossa cidade. Obrigado.

Até breve,
Miguel Marujo

14.5.07

Reportagens do baú*: Quando as pessoas não são números

[artigo originalmente publicado a 11 de Outubro de 2002 no PortugalDiário]


REPORTAGEM: Há empresas que tentam evitar despedimentos. E que partilham os lucros com os mais pobres. «Eu sou do tempo em que o bom empresário era o que contratava, o que criava emprego», avisa Bagão Félix


«Há algo que precisa de ser dito: o que incomoda mais é que hoje os gurus da economia são os que despedem mais pessoas, não os que criam emprego. Eu sou do tempo em que o bom empresário era o que contratava, o que criava emprego. É contra essa sociedade rude que eu me insurjo». Quem assim falou foi o ministro da Segurança Social e do Trabalho, Bagão Félix. E disse-o em entrevista ao PortugalDiário.

Católico militante, o governante talvez não desconheça uma experiência que empresários e gestores estão a pôr em prática: economia de comunhão - um nome que traduz um projecto católico de solidariedade. Mas que não tem "cor": «Não é uma experiência restrita. Há pessoas não crentes, de outras religiões», explicou ao PortugalDiário Filipe Coelho, da Amu - Acções para um Mundo Unido (a organização não-governamental que promove a experiência em Portugal).

Em Aveiro, onze empresas fecharam para férias e não voltaram a abrir. 360 trabalhadores ficaram sem emprego. Em Braga, 25 empresas fecharam na mesma situação. Mais 1500 trabalhadores sem emprego.

Uma empresa que abrace a economia de comunhão procuraria outra solução, garante Cristina Marques, outra dirigente da Amu: «Se estiver em risco a própria sobrevivência da empresa, é necessário encontrar alternativas para trabalhadores que eventualmente estejam a mais». Filipe Coelho sublinha: «As pessoas não são números. Não se põe logo em cima da mesa a solução mais fácil».

Afinal, diz Coelho, «o lucro não é o centro único e prioritário de toda a actividade, mas sim o ser humano, que é o centro do agir da empresa e do empresário». Deotilde Araújo, empresária que abraçou esta «filosofia de vida», parece confirmar esta ideia: «O negócio é sempre um risco, mas podemos medir esse risco. Se calhar, a minha algibeira pode levar menos para casa».

As empresas envolvidas na experiência da economia de comunhão comprometem-se a "levar menos na algibeira": «O lucro não é exclusivamente destinado» às empresas, esclarece Cristina Marques. São antes destinados a um «bolo comum, recolhido em cada país e enviado para uma coordenação internacional», explica Filipe Coelho. «Não é uma quota, nem uma taxa. O empresário pode precisar de investir na sua empresa».

Em cada país, agentes locais «identificam pessoas que precisam da ajuda» desse bolo comum.

Uma ideia invulgar

A experiência da "Economia de Comunhão na Liberdade", o nome original da proposta de Chiara Lubich, fundadora do movimento católico dos Focolares, nasceu de uma visita desta italiana ao Brasil, impressionada pelo contraste entre uma das maiores concentrações de arranha-céus do mundo e as favelas que "mancham" a cidade de São Paulo.

A economia de comunhão é «uma das várias expressões que vão fazendo uma revolução silenciosa» no mundo do trabalho, assegura Filipe Coelho. E cita outros exemplos: o microcrédito e o comércio justo. Mas os promotores da experiência sublinham que é um «projecto-criança», uma «realidade nova». E que precisa de crescer.

O projecto radica-se numa «cultura do dar», que - segundo os seus promotores - ultrapassa a forma invulgar de repartir o lucro das empresas. «Tal como temos de arranjar dinheiro para os impostos, temos de arranjar para isto», explica Deotilde Araújo, que gere com o marido uma pequena empresa de contabilidade em Sobral de Monte Agraço. «Privilegiamos mais um bom ambiente de trabalho do que ter outras coisas», defende.

Ao abraçar este projecto, Deotilde sabe que está sob o escrutínio de trabalhadores, fornecedores e clientes: «Não podemos criar situações que os façam duvidar» da experiência. Mas, adverte, não faz disto bandeira, «é uma empresa normalíssima». Prefere fazer. «Há dores, há problemas para resolver, como em tudo, como nas nossas famílias».


[* - o LxRepórter recupera algumas reportagens que permanecem actuais]

11.5.07

Sabores de todo o mundo no jardim da Estrela

Encontros e debates, sabores e sons, animação infantil e imagens do mundo: esta é a proposta para quem se deslocar este fim-de-semana ao Jardim da Estrela, em Lisboa, onde decorrerá o Fórum de Comércio Justo. A partir desta sexta-feira, às 17h30, hora da abertura oficial até domingo ao entardecer, "O som, a imagem e o sabor do mundo" é o mote para este espaço.

Do programa destaca-se a organização de oficinas para crianças, uma primeira com "os actores do comércio justo" e uma segunda dedicada a "jogos do mundo". Estas oficinas, bem como os espaços de debate, são – nas palavras da organização do fórum – momentos de "sensibilização para a temática do comércio justo, bem como para algumas das áreas transversais necessárias ao desenvolvimento sustentável – protecção ambiental, consumo sustentável, capacitação dos produtores e igualdade de género".

Esta sexta-feira, o fórum é ainda palco do lançamento de uma publicação sobre "Consumo público, consumo ético" que "pretende ser uma ferramenta útil para todos os que se preocupam com estas questões e que querem ter uma voz activa na forma como o Estado desempenha as suas funções.

As refeições são ao sabor dos quatro cantos do mundo. "Menus eco-solidários" (aos pequenos-almoços, almoços e jantares) são servidos aos visitantes. O de hoje é acompanhado de danças orientais pelo Grupo Shamsa.

No domingo, quase no fecho deste evento, tem lugar um debate com organizações de comércio justo internacionais com o tema "O Comércio Justo face aos novos desafios comerciais".

Este Fórum é organizado pela coordenação Cores do Globo do Projecto Consumo Responsável, em parceria com o CIDAC e a "Reviravolta", e com o apoio do IPAD.

9.5.07

Manifestação a favor de Carmona convocada por e-mail interno

A manifestação de apoio a Carmona Rodrigues que reuniu de forma alegadamente espontânea funcionários da Câmara Municipal de Lisboa (CML), no passado dia 4, foi convocada pela “mailing list” interna da autarquia.

A iniciativa, que partiu do endereço electrónico de três funcionárias da Direcção Municipal de Finanças da CML, convidava os funcionários a reenviarem a mensagem. No e-mail, a que o LxRepórter teve acesso, redigido em maiúsculas em seis linhas, era indicado local e hora de encontro para a manifestação. E rematava com uma estranha indicação: “Vamos também, se se justificar ter a cobertura televisiva” [sic].

Eis o texto na íntegra:
«VAMOS APOIAR O NOSSO PRESIDENTE
PONTO DE ENCONTRO NO CAMPO GRANDE 25 ATRIO CENTRAL OU PAÇOS DO CONCELHO CONSUANTE [sic] ESTEJAM MAIS PERTO A PARTIR DAS 15H00
POR FAVOR CONFIRMEM A VOSSA PRESENÇA REENVIANDO ESTA MENSAGEM
VAMOS TAMBÉM, SE SE JUSTIFICAR TER A COBERTURA TELEVISIVA
POR FAVOR NÃO FALTES»

Na altura, largas dezenas de funcionários concentraram-se no edifício municipal do Campo Grande, juntamente com o vereador Pedro Feist, que desde a primeira hora se manifestou a favor da continuidade de Carmona Rodrigues, mesmo que este fosse constituído como arguido.

7.5.07

A Alta de Coimbra vista em Lisboa

Sobe-se a Monsanto, para melhor descobrir o futuro da Alta de Coimbra. Em Lisboa, na Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica, uma exposição apresenta o projecto de candidatura da Universidade de Coimbra a Património Mundial da UNESCO, até 24 de Maio.

A requalificação da Alta de Coimbra está entregue a nomes importantes da arquitectura portuguesa, que virão a Lisboa explicar os projectos que lhes cabem e que permitirão depois ao Gabinete de Candidatura à UNESCO (GCU) apresentar toda a zona da Alta da cidade dos estudantes e a Universidade a Património da Humanidade.

A acompanhar a exposição "Alta entre vistas", que pode ser visitada todos os dias úteis, das 10 às 17 horas, o GCU promove quatro conferências sobre os projectos. A primeira apresentação, que terá lugar quinta-feira, dia 10, cabe a João Mendes Ribeiro, o arquitecto responsável pelas intervenções no Laboratório Químico, na Casa das Caldeiras e no Teatro Paulo Quintela. A 17, Álvaro Siza e António Madureira explicam o projecto da nova Biblioteca da Faculdade de Direito a instalar na Casa dos Melos.

Por fim, numa semana duas conferências: uma a 22, terça-feira, por Victor Mestre sobre o projecto do Auditório da Reitoria e o espaço envolvente, o Pátio do Departamento de Física e Química; e outra a 24, quinta-feira, no último dia em que será possível visitar a exposição, com Gonçalo Byrne a intervir sobre a reabilitação do Pátio das Escolas, a construção do parque de estacionamento no Largo D. Dinis, o CIDUC (Centro de Informação e Documentação da Universidade de Coimbra) e a reabilitação do edifício da Associação Académica de Coimbra.

As conferências têm sempre lugar às 10 horas, no espaço da exposição, no edifício do Cubo, na Faculdade de Arquitectura de Lisboa. Subir a Monsanto para melhor ver como ficará a Alta de Coimbra.

[na imagem: maquete do projecto de Gonçalo Byrne para o "Concurso de Ideias ara o Plano de Reconversão dos Espaços dos Colégios de São Jerónimo, das Artes, Laboratório Químico e área envolvente", lançado em 1995 pela Reitoria da Universidade de Coimbra (UC) e aberto a quatro professores do Departamento de Arquitectura da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC, em exposição anterior; foto GCU]

30.4.07

Mais da Lisboa inesperada

O ritmo do LxRepórter tem sido muito irregular, por várias razões pessoais. Enquanto isso, deixamos esta nova imagem de uma Lisboa inesperada, do Rui Almeida, que já distribui poesia pela rua. Que outros nos façam chegar também os seus olhares sobre Lisboa (para mmarujo@gmail.com).



Indicação de trânsito para peões na Rua de Barros Queirós (que liga o Largo de S. Domingos à zona do Martim Moniz)

21.4.07

Reportagens do baú*: Direita é quem mais falta no Parlamento

[artigo originalmente publicado a 27 de Julho de 2005 no PortugalDiário e no jornal Metro]

POLÍTICA: Deputados «laranjas» faltaram 249 vezes ao plenário, mas os do CDS-PP são os que, em média, mais estiveram ausentes. Motivos vão da doença ao trabalho parlamentar. Estes números podem ajudar a discutir o actual modelo constitucional


O PSD é o partido mais faltoso nesta legislatura [2005], com os seus 75 deputados a totalizarem 249 faltas, em 40 reuniões plenárias e uma reunião da comissão permanente. Num só dia, curiosamente uma "ponte", a 27 de Maio, faltaram 55 parlamentares. Os deputados dos seis partidos faltaram 569 vezes com ou sem justificação. Há quem defenda que estes números podem ajudar a discutir o actual modelo constitucional. Esta quinta-feira, realiza-se a última reunião do plenário antes das férias.

Desde 10 de Março [de 2005], na abertura da X Legislatura, o único dia em que todos compareceram, os deputados sociais-democratas acumularam 249 ausências, os socialistas 222, os do CDS 50, os comunistas 27, os "bloquistas" 17 e os "verdes" quatro, de acordo com o Diário da Assembleia da República.

Em termos relativos, se o mal fosse distribuído por cada um dos assentos, os "populares" eram os mais absentistas, com uma média de 4,16 faltas por deputado, e os socialistas os menos - apenas 1,83 faltas por cada parlamentar (número que beneficia por ser o maior grupo parlamentar). Entre estes extremos, os partidos de oposição à esquerda têm médias que se equivalem: "Os Verdes" teria duas faltas por deputado, o BE 2,125 e o PCP 2,25. À direita, o PSD aproxima-se mais do CDS-PP (3,32 de média).

«Se fossem tecnicamente faltas, já teriam perdido o mandato», alerta Nuno Ferreira da Silva, chefe de gabinete do grupo parlamentar do PS. Um deputado que falte quatro vezes sem apresentar um motivo válido - que é «a doença, o casamento, a maternidade e a paternidade, o luto, missão ou trabalho parlamentar e o trabalho político ou do partido a que o deputado pertence», segundo o Estatuto do Deputado - perde o lugar.

O deputado do PSD, Virgílio Almeida Costa - que ocupa ex aequo o topo da lista, por doença («não é esse o meu percurso anterior como deputado», esclarece ao PortugalDiário) -, defende um debate sobre o actual modelo constitucional. «Um deputado serve melhor o eleitor a ouvi-los onde estão, ou a estar no plenário a bater palmas a coisas previamente decididas pelos directórios partidários», questiona.

O parlamentar "laranja" eleito por Braga duvida da necessidade de reduzir o número de lugares na Assembleia da República, como defende o líder do PSD, Marques Mendes. «Não é por aí que as contas estão desequilibradas. O número de deputados é adequado à realidade demográfica», defende. E, provocador, Virgílio Costa diz que acha ser «pouco relevante a presença hemiciclo e muito relevante o contacto com o eleitor».

Do PS, Ferreira da Silva entende que «os deputados são eventualmente os mais vigiados» no exercício da sua profissão e entende que as faltas se justificam por «trabalho parlamentar e político».

Se no topo, a doença afastou do plenário Virgílio Almeida Costa e a deputada socialista Matilde Sousa Franco (ambos com 16 ausências justificadas), a lista que se segue apresenta parlamentares que reivindicarão os mais diferentes argumentos para as suas faltas (o PortugalDiário procurou sem sucesso ainda ouvir as reacções dos grupos parlamentares do PSD e CDS): Gonçalo Nuno Santos, do PSD (15 faltas), Paulo Portas, do CDS-PP (14), Manuel Maria Carrilho e João Soares, do PS (12, por «trabalho político», segundo a fonte do grupo), e depois uma lista de seis eleitos com 11 faltas (Carlos Alberto Pinto, Dias Loureiro, José Cesário, José Luís Arnaut, Pereira da Costa, todos do PSD, e Jerónimo de Sousa, do PCP). Os ex-governantes do PSD, Jorge Neto e Paulo Rangel, não compareceram dez vezes, o líder do PSD, Marques Mendes, e o deputado do PS, António Vitorino, nove.

Da leitura do jornal oficial do Parlamento, ressaltam dois dias: a sessão do 25 de Abril, em que a direita optou pela ausência (28 deputados do PSD e seis do CDS), e o dia 27 de Maio, entre um feriado e o fim-de-semana, com 25 parlamentares socialistas absentistas, 25 "laranjas", quatro "populares" - entre os quais Nuno Melo, líder parlamentar, e Portas -, e um deputado do BE.


[* - o LxRepórter recupera algumas reportagens que permanecem actuais]

9.4.07

Postais de Lisboa: uma má prática na cidade


[esplanada do restaurante Pic-nic, no Rossio, em Lisboa, hoje às 13 horas; foto de telemóvel por MM]


Lisboa é uma cidade que vive de costas voltadas para o sol. Ao contrário de Paris ou Londres, onde é possível gozar esplanadas em dias improváveis, a capital portuguesa não parece tirar partido da magnífica luz que a cidade tem. Mas nem tanto ao mar, nem tanto à terra: há cafés e restaurantes que, por vezes, se julgam donos e senhores do espaço público, como demonstra a foto tirada hoje no Rossio.

Os responsáveis do restaurante Pic-nic entenderam por bem ocupar quase toda a largura do passeio, com mesas e cadeiras para aumentar a já generosa esplanada, em dia de muito sol e turistas, mas sem deixarem muito espaço para lisboetas e visitantes passarem, numa zona de intenso movimento pedonal. Restava a alternativa de dois estreitos corredores entre as mesas e entre estas e uma paragem do autocarro. Se esta ocupação for ilegal, lamenta-se a pouca celeridade da fiscalização camarária (tão lesta noutros casos, como o do cartaz dos Gatos Fedorentos), se for legal, mais se lamenta que a autarquia pactue com uma imagem tão desmazelada da cidade.

6.4.07

Reportagens do baú*: «Igreja tem de estar a 'full-time' na Internet»

[publicado originalmente a 23 de Dezembro de 2000 no PortugalDiário]

REPORTAGEM: Do padre-cibernauta às paróquias com neve ou aviões de jacto nas páginas de abertura, o panorama dos sítios católicos na rede desenhava-se assim em 2000. «Bem-hajais pelo vosso interesse»


«A Igreja tem de estar a 'full-time' na Internet». Quem o diz é o «padre Júlio», porventura o mais conhecido sacerdote-cibernauta do país, em conversa com o PortugalDiário. Júlio Grangeia, pároco em Travassô e Óis da Ribeira, duas freguesias do concelho de Águeda, disponibiliza todos os dias algum do seu tempo à navegação na rede, onde mantém uma página pessoal desde 1997, já visitada por mais de 37 mil pessoas.

A Internet pode ser um «meio alternativo ou complementar, não um meio exclusivo» de evangelização, adianta aquele padre. Também porque «o discurso oficial é cada vez menos compreendido» e o mundo da rede permite chegar de outras formas aos «paroquianos da aldeia global».

Para responder a dúvidas ou apenas conversar, muitos encontram-se num 'chat' (em #padres_online da PT.net) onde vários religiosos, incluindo uma freira espanhola, que se associaram a Júlio Grangeia, vão respondendo aos cibernautas curiosos. Muitos são «marginalizados» pelo discurso e prática da própria Igreja. Seguros no anonimato dos 'nicknames', todos podem fazer perguntas, «quando não encontram nos seus párocos» a abertura e proximidade para as abordar.

O bispo de Aveiro, a diocese de Júlio Grangeia, «compreende» a actividade cibernáutica do seu padre e entretanto convocou-o a dinamizar um grupo que informatize as paróquias aveirenses.

Em Novembro de 1997, os bispos portugueses aprenderam a navegar na rede, durante uma assembleia geral do episcopado. D. João Alves, bispo de Coimbra e então presidente da Conferência Episcopal, convidou os seus pares a conhecer as «auto-estradas da informação» com o objectivo de colocar cada região eclesiástica na Internet. Passados três anos, só é possível aceder a 11 das 20 dioceses - e as assimetrias do país, também se notam aqui: das dioceses 'off-line' a quase totalidade é do interior (excepto Viana do Castelo).

Na página da diocese do Porto é possível encontrar um fórum de «diálogo com o bispo», que privilegia por enquanto «o contacto com a Comunicação Social de âmbito nacional». D. Armindo Lopes Coelho «disponibiliza-se para responder às questões que lhe forem colocadas por esta via». Na página de abertura, aquele bispo apela a que se viaje «como amigos pelas auto-estradas da Internet, como parceiros da mesma causa em caminhos de tolerância e compreensão, de amizade e de paz».

Esteticamente muito simples, sem muita imaginação, a maior parte dos sítios limita-se a apresentar alguns dados históricos, o perfil e contacto de bispos e órgãos diocesanos e, eventualmente, alguma documentação (Santarém, por exemplo, ainda que não tenha página própria, disponibiliza uma carta pastoral do seu bispo sobre uma peregrinação diocesana a Fátima).

Júlio Grangeia diz que «os 'sites' são formais, muito estereotipados e pouco apelativos». Aquele padre refere que a Igreja portuguesa ainda «está a descobrir» este mundo, mas de uma «forma incipiente» - o que explicará, porventura, a fraca qualidade gráfica e de conteúdos da generalidade das páginas 'católicas'.

A linguagem mantém o arcaísmo próprio de uma instituição como a Igreja, que muitas vezes desconfia das novidades: «Bem-hajais pelo vosso interesse», agradece em tom solene o bispo de Coimbra na página de abertura da sua circunscrição cibernética. «Mais importante do que dizer, é a forma como se diz», alerta Júlio Grangeia, que reconhece «usar e abusar», por isso, de «formas menos canónicas» na sua página pessoal, como o diabinho (mais simpático, que diabólico) que remete para uma fotografia sua.

Na navegação do PortugalDiário, feita por estes dias, foram encontrados alguns pormenores quase anedóticos: uma paisagem de neve a acolher os visitantes numa página de uma paróquia alentejana ou uma fotografia de aviões a jacto a dar as boas-vindas aos cibernautas que 'aterram' em Vilarinho do Bairro, uma freguesia da diocese de Coimbra.

São 71 as paróquias registadas no directório «Paróquias de Portugal» (a última foi adicionada a 13 de Dezembro), uma porta de entrada possível. Uma página mais completa - e das mais conseguidas -, para aceder a este mundo é o 'site' oficial da Igreja Católica em Portugal.

A paróquia com a população mais jovem de Viana do Castelo, Nossa Senhora de Fátima, mantém uma sondagem sobre a necessidade de rever ou não a Concordata (o tratado que regula as relações entre Portugal e o Vaticano), polémica suscitada há largos meses pelo Bloco de Esquerda. E os resultados são concludentes, apesar dos escassos 21 votos: 76,1 por cento desejam a revisão daquele documento. Apenas 14,2 por cento recusam 'mexer' na Concordata e 9,5 por cento dos votantes não manifestam opinião.

«O pop-rock de mensagem cristã tem um nome» é como se apresenta o grupo musical Golgotha, que parece mais próximo de uma qualquer banda de heavy-metal a avaliar pela 'iconografia'. Para além da música, a Internet proporciona várias possibilidades aos mais apressados e que não têm tempo para entrar numa igreja. Há quem assegure uma oração diária on-line (em português) e quem absolva os seus pecados, num confessionário virtual (apenas em inglês).

Pelo mundo fora, as Igrejas locais adequam-se a esta nova possibilidade de chegar a mais gente. O Vaticano mantém um sítio adequadamente 'clássico', que possibilita ainda um passeio pelos seus museus. Outras páginas proporcionam uma informação mais variada ou especializada - como a lista de todos os santos da Igreja católica (com actualizações regulares devido à acção do Papa João Paulo II) ou dois centros de informações católicos na Internet (http://www.catholic.net/ e http://www.cin.org/).


[* - o LxRepórter recupera algumas reportagens que permanecem actuais. Nota: Alguns links já não estão a funcionar e os dados sobre outros estão obviamente desactualizados.]

26.3.07

Mais de Lisboa inesperada (numa pausa do LxRepórter)

O LxRepórter faz uma pausa de duas semanas. E promete regressar a 9 de Abril com mais notícias. Até lá deixamos novos retratos de uma Lisboa inesperada, pela lente atenta do leitor António Paulino. Que outros nos façam chegar também os seus olhares sobre Lisboa (para mmarujo@gmail.com).



















Igreja de Nª Sª da Oliveira (escondida) na Baixa [em cima]


















Relógio (Graça) [em cima]



















Urinol (junto ao Castelo de S. Jorge) [em cima]

25.3.07

Reportagens do baú*: Quando os miúdos viajam na "chapeleira"

[artigo originalmente publicado no PortugalDiário a 8 de Agosto de 2003]


REPORTAGEM: Há erros comuns no transporte das crianças nos automóveis. Mas também situações incríveis. "À solta", as crianças podem sofrer lesões graves ou mesmo morrer


As crianças viajam muitas vezes sem protecção adequada e mesmo nos lugares mais incríveis. Numa época em que as famílias se fazem à estrada para gozo de férias, a preocupação pelo transporte dos mais pequenos continua presente. A Associação para a Promoção da Segurança Infantil (APSI) não deixa de alertar para o perigo de viajar com uma criança "à solta" no automóvel.

O erro mais comum de muitos pais é a não protecção das crianças com sistema de retenção adequado, como a vulgar "cadeirinha", ou até cintos de segurança, assegurou ao PortugalDiário José Pedro Dias, técnico em segurança rodoviária da APSI.

Entre as situações mais absurdas, encontradas recentemente por técnicos da APSI, está o transporte de crianças no porta-bagagens de carros comerciais e miúdos «a dormir deitadas na chapeleira». O perigo é evidente, constata o especialista: «Um perigo agravado de lesões muito graves e morte por embate nas estruturas rígidas do automóvel e/ou por ejecção para a faixa de rodagem», mesmo a baixas velocidades.

Entre aqueles que usam dispositivos de segurança, há erros que «podem diminuir a eficiência da protecção dada às crianças», refere José Pedro Dias. E exemplifica: «Viajar com a criança voltada para a frente demasiado cedo», que é como quem diz, pelo menos até aos 18 meses. Segundo o técnico da associação, a criança deve «até quanto mais tarde melhor» andar de costas: «Devido ao peso da sua cabeça, muito elevado em comparação com o do corpo, e ao seu pescoço muito frágil», esclarece.

O abandono da utilização de uma cadeira para crianças não deve ser feito demasiado cedo. Como diz José Pedro Dias, «devido à sua pequena estatura, o cinto de segurança precisa de ser complementado com a utilização de uma cadeira de apoio, até a criança ter 12 anos, 36 quilos ou um metro e meio de altura».

Outra preocupação da APSI é a fixação das cadeirinhas nos automóveis. As folgas eventualmente dadas na sua fixação podem revelar-se fatais, de acordo com o técnico: «As folgas diminuem o espaço de sobrevivência disponível e, por isso, as possibilidades de sobrevivência da criança em caso de acidente». Outra hipótese é «a criança ser "cuspida" da "cadeirinha" e ir bater no interior do automóvel ou ser esmagada na estrada».

A crueza da imagem remete para as frias estatísticas: em 2002, morreram 29 crianças, mais uma que em 2001. Em Janeiro de 2003 (últimos dados disponíveis) morreram três menores de 14 anos. É entre os 10 e os 14 anos que se morre mais (12 vítimas mortais), segundo os números da Direcção-Geral da Viação, registados no «Relatório Estatístico da Sinistralidade 2002». Antes dos cinco anos de idade, o número é de 11 mortos.

Estes números são agravados com as estatísticas dos feridos graves: 165, até aos 14 anos (62 feridos até aos cinco anos, 41 entre os seis e os nove, e outros 62 dos 10 aos 14 anos). Apesar da diminuição em relação a 2001 (menos quatro feridos graves no total), entre as crianças até aos cinco anos o número subiu (mais quatro).

Neste mês de Agosto, a Rádio Comercial - que "patrulha" algumas estradas em colaboração com a GNR, nas suas "operações Stop" - vai oferecer prendas às crianças que sejam transportadas em segurança pelos seus pais. Aos condutores que não cumprirem as normas devidas será entregue um folheto informativo, com explicações sobre a importância de transportar correctamente as crianças. Como dizia o "spot" antigo: «Comigo os miúdos vão sempre no banco de trás.» E bem seguros, de preferência.


[* - nota: ao fim-de-semana, o LxRepórter recupera antigas reportagens, que de algum modo permanecem actuais]

22.3.07

[nota editorial]

Por diversos motivos, este blogue tem tido um ritmo menor de publicação de notícias. As nossas desculpas, aos leitores que nos procuram.

20.3.07

Postal desta Lisboa inesperada (IV) - mais um contributo dos leitores




















«Bebendo na Baixa»
O leitor António Paulino respondeu ao nosso desafio com várias fotos. Esta é mais uma das suas contribuições.

19.3.07

Quatro anos de guerra no Iraque assinalados em Lisboa

Os quatro anos da invasão do Iraque são assinalados esta terça-feira, 20 de Março, dia em que uma coligação de países, liderada pelos Estados Unidos e Reino Unido lançou uma ofensiva terrestre contra o regime ditatorial de Saddam, a partir do Kuwait, corria o ano de 2003.

Em Portugal, a data é assinalada com uma concentração no Rossio, em Lisboa, promovida pelo Conselho Português para a Paz e Cooperação, próximo do PCP, onde será feita uma proclamação que pretende, entre outros aspectos, exigir o fim da “ocupação”, “a plena soberania do povo iraquiano” e “nenhum apoio, nenhuma facilidade militar ou logística à política guerreira de Bush”.

Na sexta-feira, 23, é a vez da música, com um Concerto pelo Iraque, na Sala 1 do Cinema São Jorge em Lisboa, às 21h30. A iniciativa do movimento Tribunal do Iraque reúne em palco uma paleta abrangente de sons e estilos de música com Camané, Fausto, Jorge Palma, José Mário Branco, Luís Represas, Pacman (dos Da Weasel), Paulo de Carvalho e Pedro Abrunhosa.

Por fim, no sábado, 24, às 18h30, também em Lisboa, um debate na Casa do Alentejo, discutirá os cenários actuais que se colocam no território iraquiano e à diplomacia internacional, a partir das intervenções de Silas Cerqueira, António Louçã, Carlos Carvalho, Manuel Raposo e Rui Rosa.

18.3.07

Meia Maratona fecha ponte 25 de Abril, uma informação quase clandestina

A ponte 25 de Abril está encerrada este domingo de manhã, a partir das 9h15 até cerca das 12h30, nos dois sentidos, por causa da realização da 17ª Meia Maratona de Lisboa. Mas a informação é quase clandestina, não estando disponível em sites de organismos e entidades que, à partida, têm obrigações na gestão da informação deste tipo de acontecimentos.

O site oficial da competição omite esse dado, apenas disponibilizando informações aos concorrentes e participantes, enquanto que as autoridades policiais (GNR e PSP) não avançam qualquer antecipação do fecho deste importante eixo viário entre as duas margens. A Câmara de Lisboa também não tem qualquer alerta para o encerramento desta via no espaço reservado às notícias.

Só a Lusoponte, entidade gestora da ponte, disponibiliza a informação do encerramento. Mas mesmo no site da empresa pode não acertar-se à primeira: na página de "informações úteis", os dados são inúteis: referem-se a 2006 e outros anos anteriores. Apenas nas "novidades" se confirma a notícia - «Informamos todos os nossos estimados Clientes que no próximo Domingo, dia 18 de Março, a Ponte 25 de Abril estará encerrada ao trânsito a partir das 09h15 prevendo-se a sua reabertura para as 12h30, de modo a permitir a realização da 17ª Meia Maratona de Lisboa.»

A alternativa para o trânsito automóvel durante a manhã deste domingo será a ponte Vasco da Gama.

17.3.07

Reportagens do baú*: Urgências hospitalares à beira da ruptura

[artigo originalmente publicado no PortugalDiário a 12 de Janeiro de 2004]

REPORTAGEM: Hospitais sem capacidade de resposta, médicos e enfermeiros insuficientes, doentes à beira de um ataque de nervos. Todos fazem o diagnóstico, mas não há um medicamento eficaz a curto prazo


As urgências hospitalares estão à beira da ruptura. O caos sucede-se, os hospitais não têm capacidade de resposta, os médicos e enfermeiros são insuficientes, os doentes ficam à beira de um ataque de nervos. Todos fazem o diagnóstico, mas não há um medicamento eficaz a curto prazo.

Na semana passada, em dois dias, a espera no Hospital Fernando da Fonseca (Amadora-Sintra) atingiu as 18 horas no sábado, dia 3, e 10 horas na quinta-feira, dia 8. Uma situação «habitual», admitiu fonte do gabinete de imprensa ao PortugalDiário.

Um hospital recente, como o Fernando da Fonseca, concebido para uma população de 200 mil habitantes, serve dois dos maiores concelhos do país: Amadora e Sintra. Nas urgências eram esperadas 200 pessoas por dia. Hoje, um dia «normal» significa o atendimento de 400/500 pessoas na urgência central. No dia 3 de Janeiro «houve um afluxo acima da média», agravado pela falta de um médico na equipa de urgência.

A culpa é dos doentes que não têm indicação para ir à urgência e que deviam procurar os centros de saúde, adiantam os responsáveis. «É preciso alertar as pessoas para que se dirijam aos centros de saúde», diz fonte do Amadora-Sintra, que «tem projectos desenvolvidos para as pessoas procurarem os seus médicos de família». Sem sucesso.

Hoje, muitos hospitais utilizam o modelo de triagem de Manchester, em que a velocidade de atendimento é determinada pela gravidade do caso, em detrimento da ordem de chegada. Assim, quanto menos grave mais se pode esperar para ser atendido. No Amadora-Sintra, explicou fonte do hospital, quem esteve à espera naqueles dois dias foram os doentes "azuis" (sem urgência) ou "verdes" (casos pouco urgentes).

No Hospital de Santa Maria, em Lisboa, num dos últimos dias de Dezembro, o tempo de espera na urgência central foi de cerca de seis horas. «Em Dezembro esteve mau, em alguns dias, agora melhorou», admitiu Oliveira Marques, director do serviço ao PortugalDiário.

O período da manhã é o melhor em Santa Maria, reconhece este responsável, «quando funciona a equipa fixa e os tempos de espera são mínimos». A partir das 15 horas, entram as equipas rotativas - «todas elas muito carenciadas» -, a afluência de doentes aumenta e cresce também a espera. De quatro a cinco horas, é o máximo que se verifica para os doentes menos graves ("verdes" e "azuis"), garante Oliveira Marques.

O modelo de equipas fixas pode ajudar a combater os longos tempos de espera porque esses médicos «estão todos os dias [no serviço], têm mais experiência e estão motivados», enumera o responsável de Santa Maria. Neste momento, o modelo não pode ser estendido a todo o dia: «Quando tiver o número suficiente de médicos» será possível prolongar o tempo de trabalho das equipas fixas. Para isso, «precisaria do triplo de médicos», admite Oliveira Marques.

Este é o problema onde tudo vai bater: «Há falta de médicos. De imediato, não há solução», diz. Resta «formar mais médicos» para evitar a ruptura definitiva nas urgências. Por enquanto, Oliveira Marques continuará a ter pouca resposta aos anúncios que coloca na imprensa à procura de clínicos externos para suprir as necessidades. Dinheiro para os contratar não falta. Falta é dinheiro para «dar incentivos de ordem económica». E mais importante, faltam clínicos: «Não há mercado para preencher as vagas do quadro».

[* - nota: ao fim-de-semana, o LxRepórter recupera antigas reportagens, que de algum modo permanecem actuais]

16.3.07

Pilaretes "atiram" peões para fora dos passeios

A gincana a que os peões lisboetas estão obrigados é conhecida, numa cidade em que o automóvel é rei e senhor (ver notícias relacionadas. Para facilitar o trânsito de pessoas, a Câmara procura soluções que impeçam o estacionamento ilegal nos passeios. Mas que dizer de soluções que são elas próprias obstáculos à utilização dos passeios pelos próprios transeuntes?

Este exemplo é da Travessa do Torel (junto ao Campo dos Mártires da Pátria), mas há outros por essa cidade fora: a colocação de pilaretes para impedir o estacionamento automóvel é feita de tal modo em passeios tão estreitos que os peões são obrigados a partilhar o alcatrão com os carros que passam. Apesar de não ser visível na imagem, o passeio do outro lado da pequena travessa, sem pilaretes, está ocupado por automóveis. A menos de 100 metros há um parque de estacionamento público. Com lugares livres, como constatou o LxRepórter esta sexta-feira ao início da tarde.

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Uma semana do tamanho do mundo para descobrir "um mundo mais vasto"

Lisboa e Guimarães têm “uma semana do tamanho do mundo” a acontecer entre portas, numa realização da União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA) e da Urbáfrica. O programa decorre em Lisboa desde quarta-feira, dia 14, e prolonga-se até domingo, 18. Em Guimarães, duas mostras apresentam-se de 22 de Março a 5 de Abril, concentrando-se a realização de um atelier e um fórum a 23 deste mês.

Os objectivos da iniciativa apontam para a educação para o desenvolvimento, descobrindo “um mundo mais vasto”, a partir da experiência de vida de cada um, onde o mundo começa, como argumenta a organização do evento. A organização interpela directamente os cidadãos das duas cidades: “Propomos mudar este mundo com um projecto que criou outros projectos, que envolveu dezenas de pessoas com uma grande capacidade de interrogar, duvidar, criticar e criar outras realidades. Esta experiência de vontade iluminou outras perspectivas, outros contextos, outras verdades, outras propostas e outras hipóteses que queremos partilhar contigo.”

Em Lisboa, até domingo, decorrem duas mostras: a exposição de fotografia “A Partilha do Indivisível”, no Fórum Lisboa (que comemora 50 anos), onde pode ser vista das 10 às 18 horas; e uma instalação da artista Sara Lisboa, que pode ser apreciada no mesmo horário.

Já hoje, a partir das 16 horas, também no Fórum Lisboa (à Avenida de Roma) um debate/workshop sobre “Educação para o Desenvolvimento: Estudo de Casos Especiais” pretende analisar projectos, acções e estudos desenvolvidos no âmbito da acção de formação do projecto “Metas 2015: Responsabilidade Social”, enquanto que um seminário público sobre “Cooperação para o Desenvolvimento, no quadro dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio”, definidos pelas Nações Unidas, visa a partilha, debate e reflexão em volta das questões mais prementes e contemporâneas do desenvolvimento humano, social e ambiental a nível mundial.

Um atelier “Animação do Livro de da Leitura”, que pretende, entre outros objectivos, sensibilizar crianças dos seis aos dez anos, para a importância do livro na Educação para o Desenvolvimento, terá lugar amanhã, sábado, das 10h30 às 12 horas.

Em Guimarães, a exposição e a instalação estarão no Museu de Arte Primitiva Moderna (Largo da Oliveira), de 22 de Março a 5 de Abril, das 9 às 12h30 e das 14 às 17h30. O atelier do livro e leitura repete na Biblioteca Municipal Raul Brandão, dia 23 de Março, das 10h30 às 12 horas, enquanto que o Fórum “Educação para o Desenvolvimento” tem lugar no mesmo dia, das 16 às 18 horas.

15.3.07

“Do indígena ao imigrante”, pretextos para uma conversa

Os desafios da imigração regressam à mesa do debate a partir do tema de capa da edição portuguesa do jornal mensal “Le Monde Diplomatique”. No número de Março, o jornal apresenta um dossiê sob o título “Do indígena ao imigrante”, cujas pistas serão retomadas esta sexta-feira, a partir das 21h30, na Livraria Ler Devagar, em Lisboa.

Os autores de alguns dos artigos são chamados a lançar o mote da conversa da noite. O espaço lusófono é o ponto de partida para dois dos intervenientes: “A Lusofonia, outra forma de colonialismo” por Alfredo Margarido, e “O luso-tropicalismo: um mito persistente”, com Cláudia Castelo. Miguel Bandeira Jerónimo e Nuno Domingos dão o título ao dossiê e ao debate com a sua proposta de reflexão sobre “‘O grémio da civilização’: do indígena ao imigrante”.

Por fim, Hugo Maia e Bruno Peixe Dias avançam com outras duas pistas para este tema: o primeiro com a leitura de “como se constrói um imigrante”, o segundo com uma análise aos “enteados da Nação”.

A conferir esta sexta-feira em conversa, na Rua da Rosa, 145, em Lisboa, a nova morada da Ler Devagar, que é mais do que um espaço livreiro.

13.3.07

Nobel fala do microcrédito como contributo para a paz

O prémio Nobel da Paz, Muhammad Yunus, está de regresso a Portugal, para uma conferência sobre “Microcrédito: um contributo para a Paz”, a ter lugar no próximo dia 22, às 18h30, no Auditório 2 da Fundação Calouste Gulbenkian. Numa parceria da AESE – Escola de Direcção de Negócios com a Gulbenkian, a conferência procura explicar como uma ideia de crédito bancário a pobres pode contribuir para a paz

Economista, Muhammad Yunus fundou o Grameen Bank, depois de constatar que os mais pobres ficavam de fora do público-alvo das instituições bancárias na concessão de crédito. Ou seja, quem mais precisava não conseguia aceder ao crédito.

Por ocasião da cerimónia de entrega do prémio Nobel, em Dezembro passado, o pioneiro no microcrédito instou as empresas a renovarem o capitalismo, para assim “erradicarem” a pobreza, que, na sua opinião, é hoje fonte do terrorismo e no futuro só será encontrada em museus. “As frustrações, a hostilidade e a fúria geradas pela pobreza abjecta não podem assegurar a paz em nenhuma sociedade”, afirmou então, numa possível antecipação da linha condutora da sua conferência.

A Associação Nacional de Direito ao Crédito está a apelar à participação nesta conferência (cuja inscrição pode ser feita no site da AESE para testemunhar “o reconhecimento pelo incentivo que [Yunus] tem dado” para “fazer que o microcrédito seja um instrumento de dignificação das pessoas e de construção da paz”.

50 mil pessoas pedem fim do "choque de civilizações"

Mais de 50 mil pessoas já assinaram uma petição que pede o fim do “choque de civilizações” entre o Islão e o Ocidente. De acordo com a organização, que promove a petição on-line, “o choque não é cultural e sim político”, de Nova Iorque a Bagdad, de Guantánamo à Palestina.

Para a Avaaz.org, é possível “impedir que [o choque] aconteça”. Na petição exige-se aos líderes palestinianos, israelitas e internacionais que tenham “verdadeiras negociações de paz” – “e que fiquem na mesa de negociação até que haja paz”.

A meta da organização é atingir 100 mil assinaturas até ao fim deste mês, “quando líderes internacionais se reunirem” e a mensagem for “entregue de uma forma que eles não esquecerão”, avisa a Avaaz.org no seu site sem concretizar.

Esta organização apresenta-se como “uma comunidade de cidadãos de todo o mundo que enfrentam as grandes questões do mundo actual”. A Avaaz.org foi fundada pelo Res Publica, um grupo de advogados de todo o mundo, e pelo MoveOn.org, grupo de activismo on-line com mais de três milhões de membros.

9.3.07

Mais de duas centenas pedem afastamento de administração de creches

246 assinaturas. No início desta sexta-feira, é este o número de pessoas que já assinaram a petição on-line dirigida ao ministro do Trabalho e da Solidariedade Social, Vieira da Silva, a pedir que «se inicie o processo de destituição dos actuais corpos gerentes da Fundação [D. Pedro IV] e que seja aberta uma sindicância à gestão da actual administração».

O texto da petição começa por lembrar que a Fundação D. Pedro IV - no centro de uma forte contestação promovida por um grupo de pais, neste caso das "casas de infância", mas também por moradores dos bairros dos Lóios e das Amendoeiras - tem o estatuto de instituição de utilidade pública, o que lhe permite receber «avultados apoios estatais».

Os pais autores da petição acusam os administradores da Fundação de «gestão discricionária, economicista e totalmente desprovida de lógica social». E acrescentam: «Constata-se que os principais quadros de direcção desta IPSS [instituição particular de solidariedade social] têm vindo a ser ocupados por pessoas escolhidas por motivações familiares ou políticas, sem que para tal sejam asseguradas as necessárias competências técnicas científicas e pedagógicas.»

Entre as acusações apontadas no texto peticionário, dirigido ao ministro da tutela, com quem aliás já mantiveram uma reunião, os pais argumentam que «a Fundação está transformada em sede de várias empresas imobiliárias e de fundos de investimento, dirigidas pelo Presidente do Conselho de Administração e geridas por outros membros dos seus órgãos sociais, que ali desenvolvem as suas múltiplas actividades nos referidos ramos», bastando para isso olhar para as placas «à porta da sua sede», onde funciona também uma das "casas de infância" [ver fotos], junto ao Campo dos Mártires da Pátria, em Lisboa.


Notícias relacionadas: Manifestação inédita lembra que habitação é um direito e Pais ameaçados por administração de creches

[O LxRepórter tem em preparação um conjunto de notícias sobre este caso.]

8.3.07

Postal instantâneo: concerto em cima do camião



















Às 19h, o camião devia estar estacionado no Terreiro do Paço para um concerto de 15 minutos. Os Blind Zero festejaram hoje os 13 anos com 13 concertos, do Porto a Lisboa, de camião, sempre a rock'n'rollar. Mas, algures no caminho, o atraso (curto) tornou-se inevitável: às 19h24, em passo estugado, fãs e transeuntes acompanhavam a banda do Porto a tocar os seus êxitos (agora reunidos num "best of" acústico) a sair da Praça dos Restauradores. No final de uma canção, houve lugar a aplausos - e a buzinadelas. De contentamento. Os automobilistas quase retidos no trânsito, obrigados a seguir em marcha lenta, não pareciam importar-se. Os benfiquistas já estariam em casa.

[foto captada por telemóvel]

5.3.07

Pais ameaçados por administração de creches

Os pais das crianças das creches e jardins de infância da Fundação D. Pedro IV que têm criticado a administração e pedido a sua destituição foram ameaçados por manifestarem vontade de constituir uma associação de pais.

O processo que envolve a Fundação tem sido, no mínimo, rocambolesco. Depois de estar envolvida numa transferência de prédios nos bairros de Lóios e das Amendoeiras [ver notícia relacionada], agora é a gestão das sete «Casas de Infância» a criar polémica.

De acordo com um «relatório-síntese» de um grupo de pais - publicado num blogue entretanto criado, onde fazem um «apelo urgente para a denúncia da situação que se vive na Fundação D. Pedro IV» -, os pais das cerca de 850 crianças foram surpreendidos, após o início deste ano lectivo de 2006/07, «com decisões e medidas» anunciadas pelo Conselho de Administração da instituição particular de solidariedade social. Entre as decisões e medidas anunciadas, segundo a denúncia dos pais, estavam a «redução do pessoal de acção educativa; ameaças de mais despedimentos de pessoal de acção educativa; [e o] anúncio, por circular entregue à porta, de uma decisão da Administração informando que a Fundação encerraria [as portas] durante o mês de Agosto de 20007, sem que em qualquer momento anterior isso constasse do Regulamento e ao contrário do sucedido em anos anteriores».

«Alarmados», este grupo decidiu avançar com reuniões de pais, onde se decidiu «mandatar [um] grupo de representantes para dar início a um processo de constituição de Assembleia de Pais, seguido de Associação de Pais e Encarregados de Educação das Casa de Infância da Fundação D. Pedro IV». Destas e de outras decisões deram conta, no relato dos próprios, ao presidente do Conselho de Administração, Vasco do Canto Moniz, em reunião tida a 24 de Janeiro. «Foi ainda igualmente solicitado pelos representantes dos pais autorização para o uso do nome da Fundação na Associação a constituir, da morada da Fundação com morada sede da futura Associação, das instalações para reuniões», relatam no referido relatório divulgado na internet, que Canto Moniz terá autorizado. A reunião para formalizar a criação da associação teve lugar a 14 de Fevereiro.

É esta decisão que agora a Fundação vem contestar, com ameaças. Em carta datada desta segunda-feira, 5 de Março, assinada por uma responsável do Departamento de Gestão [clicar na imagem para aumentar], disponibilizada no blogue dos pais, este grupo é instado a divulgar as «deliberações tomadas» em nova assembleia, por alegadamente serem «contrárias à orientação da Fundação». A ameaça, sem ser especificada, está no final da curta mensagem: se se confirmarem as tais deliberações, que incluem a constituição da associação, «levarão o Conselho de Administração a ter de extrair as naturais consequências».

Notícia relacionada: Manifestação inédita lembra que habitação é um direito

[O LxRepórter tem em preparação um conjunto de notícias sobre este caso.]

3.3.07

Imigração é uma oportunidade ou uma ameaça?

A Fundação Calouste Gulbenkian realiza nos próximos dias 6 e 7 uma Conferência Internacional "Imigração: Oportunidade ou Ameaça?" que pretende "dar a palavra a personalidades nacionais e internacionais que podem trazer a sua visão acerca da imigração". O palco da iniciativa é o Auditório 2, no edifício-sede da Fundação, em Lisboa.

No decorrer dos trabalhos, as intervenções de reconhecidos especialistas e académicos procurarão contextualizar a imigração e o desenvolvimento, os desafios da imigração, a partir de testemunhos, a perspectiva das organizações internacionais sobre os fluxos migratórios, o caso espanhol que passou da emigração à imigração e o do Brasil que se tornou um país de emigração, depois de ter sido terra de acolhimento de imigrantes.

"A dimensão humana dos processos migratórios" justifica ainda "o olhar dos escritores", mas também a análise do diálogo intercultural e interreligioso, bem como a leitura do papel das migrações internacionais na economia global. Outro momento-chave do debate será a apresentação e discussão das recomendações sobre o tema central da conferência do Fórum Gulbenkian Imigração (constituído em Março de 2006, com o objectivo de "promover uma reflexão e uma visão abrangente sobre os fenómenos migratórios").

A acompanhar a conferência, será inaugurada uma exposição de fotografia "Homo Migratius" e lançado o livro "Imigração: Oportunidade ou Ameaça? Recomendações do Fórum Gulbenkian Imigração". A conferência será ainda difundida em vídeodifusão.

2.3.07

O elevador volta a subir a encosta

Vencer a encosta do Lavra é, de novo e desde hoje, mais fácil. O elevador que sobe a Calçada com o mesmo nome, voltou a funcionar, depois de meses de paragem, para trabalhos de consolidação de um edifício que ameaçava ruir.

Até ontem, como documenta a foto, os dois elevadores estavam imobilizados a meio da encosta, junto às escadas que dão acesso ao jardim do Torel e ao Campo dos Mártires da Pátria. Depois de afinações nos últimos dias, por técnicos da Carris, esta sexta-feira passou a ser possível utilizar o funicular

Turistas - sempre muitos, de mapas e guias na mão - e lisboetas eram informados, em português e inglês, da paragem forçada deste monumento nacional. Para subir ou descer a encosta, são válidos os títulos de transporte da Carris.



[foto MM]

1.3.07

Postal desta Lisboa inesperada (III)
- mais um contributo dos leitores



















«No miradouro de Santa Luzia»
O leitor António Paulino respondeu ao nosso desafio com várias fotos. Esta é a segunda.

27.2.07

Traçar a rota da Lisboa deprimente

Um grupo de cidadãos quer traçar um roteiro no mínimo diferente para a capital: descobrir a «Lisboa deprimente», os edifícios que se detestam, as ruas e praças desmazeladas, os jardins maltratados - tudo o que deprima o lisboeta ou o seu visitante regular ou ocasional.

A campanha segue uma iniciativa idêntica lançada no Reino Unido e quer chamar a atenção das entidades públicas que mexem no espaço público - Governo, Câmara Municipal, Ippar, Ordem dos Arquitectos e Ordem dos Engenheiros. Os promotores aproveitam ainda o lançamento recente de uma agência, a Cenário Urbano, que pretende identificar espaços urbanos a necessitar de intervenção, para insistir na «necessidade de se evitar uma pesada herança para as novas gerações em termos urbanísticos, paisagísticos e tudo o mais que contribui para uma melhor ou pior qualidade de vida» dos cidadãos.

Para aderir basta visitar uma página criada especificamente para acolher as sugestões deprimidas: "Lx Deprimente" durará até ao fim do ano, com um primeiro balanço a fazer no Verão. «O objectivo é pressionar para a resolução de alguns desses casos», argumentam.

24.2.07

Reportagens do baú: Como vender os sucessos do chuveiro


[artigo originalmente publicado no PortugalDiário a 5 de Junho de 2001]

REPORTAGEM: Do chuveiro ao disco compacto a distância é grande. E do disco compacto à venda nos escaparates ainda maior é a distância


Faixa 1. Bateram a muitas portas, mostraram ao que vinham e propuseram fazer-se ouvir. Ninguém lhes ligou. Resolveram gravar em casa e com uma edição de autor nas mãos calcorrearam discotecas para deixar algumas cópias para venda. As pessoas começaram a ouvir, a comprar, a gostar e... a passar palavra. Quatro anos depois, os The Gift são um sucesso. Mas presentes destes não se repetem.

A originalidade do grupo de Alcobaça ajudou, assim como a “boa imprensa” com recensões elogiosas. Hoje, o mercado já não impõe nomes novos. É uma jogada de alto risco: «Não interessa editar muito, por não ter retorno», sublinha António Brissos, da Movieplay. «Em 1998 ou 99, o mercado suportava bem [as edições], agora não», acrescenta.

Lembra-se do êxito dos Silence 4? A editora teve que reforçar o “stock” de «Silence Becomes It» nas lojas, apanhada de surpresa pelas vendas. Outro fenómeno orquestrado por duas pautas essenciais: “soprar ao ouvido” e alguma comunicação social. Esta semana, o grupo está em Espanha a promover o seu segundo álbum. Ao alcance de poucos.

Faixa 2. Há quem se diga “punk reaccionário” ou cante “música aconchegante”. A originalidade não se mede por estas etiquetas. É preciso esquecer o que anda nas rádios, as imitações de “britney spears” ou dos “depeche mode”, o som “à luís represas” ou a voz feminina mais orquestra “à gift”. Também não vale a pena imitar os Cebola Mol e Zé Cabra. São fenómenos pontuais que ninguém parece querer repetir até à exaustão da fórmula do “desafinado”. Mas para convencer uma editora é preciso insistir muito – do chuveiro ao disco compacto a distância é grande. E do disco compacto à venda nos escaparates ainda maior é a distância.

O pequeno retalho faliu, as grandes superfícies modelam gostos, o IVA é taxado a 17 por cento e as rádios estão formatadas para nomes feitos. Aliás, «as rádios não fazem êxitos, só tocam êxitos», queixaram-se ao PortugalDiário diferentes responsáveis editoriais. Sobretudo de editoras mais pequenas. Da televisão, não vale a pena falar. Não há um único programa de divulgação musical, exceptuando os inevitáveis “tops”. «E coisas que não tenham vídeos passam dificilmente para o público», completa António Brissos.

«O “do it yourself” também está um pouco esgotado», reconhece Brissos. Ainda assim, a Strauss distribui «artistas que aparecem com tudo feito», como Shen Ribeiro ou Vá-de-Viró. Mas às mesas dos “A&R” [artistas e repertório] das editoras chegam outras coisas, sem tudo feito: bandas de garagem, produtos inspirados nos novos sons de dança, como por exemplo Daft Punk, «muito na onda do que se ouve», conta António Brissos.
Depois do êxito das guitarras dos Silence 4, muitos grupos soaram como a banda de Leiria. E «80 por cento das maquetes são cantadas em inglês», acrescenta. À imagem e semelhança de «Borrow», o tema dos Silence 4 que pôs Portugal a cantar em inglês. Ou dos álbuns dos Gift.

Faixa 3. Lisboa também é uma cidade pouco musical. A maior parte das propostas recebidas pelas editoras contactadas vêm de todo o lado, de Bragança a Faro, e pouco da capital – onde estão os palcos e... as editoras. E também «de portugueses radicados no estrangeiro», revela Ana Abrantes, da Strauss.

Nos arredores da capital – nas localidades com fortes comunidades de imigrantes – nascem cantigas de amor e maldizer ou histórias de mortos-vivos envoltas nas (velhas e novas) sonoridades africanas, como por exemplo o “kuduro”.

De ideias feitas, grupos e artistas “ensinam” as editoras a fazer e promover os “álbuns”: ir um mês a Londres, para gravar eventualmente com um produtor famoso, que tenha trabalhado com os U2 ou os Oasis, e depois uma festa de lançamento no Lux – condição obrigatória – mesmo que a música não se adeque àquele espaço nocturno lisboeta.

Créditos finais. Viver da música não é coisa fácil em Portugal. Os nomes feitos têm mercado, mas mesmo esses arriscam-se a vender meia dúzia de discos e a voltar aos circuitos dos bailes de paróquia e festas populares. «Hoje, o tempo de vida de um disco é muito menor», sublinha António Brissos. Os outros todos bem podem continuar a tentar. Nem que seja todas as manhãs no chuveiro.


[imagens: capa do álbum Vynil, dos Gift (em cima), e foto de David Fonseca e Sofia Lisboa, dos Silence 4 (em baixo)]

23.2.07

Manifestação inédita lembra que habitação é um direito

A habitação é um direito lembram os moradores de bairros afectados pelas demolições, que este domingo se juntam numa manifestação inédita, na Praça da Figueira, a partir das 15 horas, para exigir «uma política que controle a especulação desenfreada, promova o acesso e dignidade na habitação para todos».

Moradores dos bairros das Marianas, da Azinhaga dos Besouros, da Estrada Militar, da Quinta da Vitória, do Fim do Mundo e da Quinta da Serra apresentam um manifesto que pretende que «que seja respeitado o direito à habitação para todos, consagrado pelo artigo 65 da Constituição Portuguesa».

A denúncia é clara, para este movimento: «As rendas sobem! Os especuladores engordam! Os prédios caem!». E explicam ao que vêm: «Os bairros de barracas estão a ser demolidos, centenas de pessoas, sem possibilidade de acesso à habitação, são postas à força na rua. Constroem o país, estimulam a economia. Mas o Estado destrói-lhes o único tecto que têm.»

A acompanhar esta manifestação estão os habitantes dos bairros dos Lóios e das Amendoeiras que mantêm um litígio com a Fundação Pedro IV, actual proprietária dos 1451 fogos nestes dois bairros lisboetas, depois do IGAPHE - Instituto de Gestão e Alienação do Património Habitacional do Estado (entretanto extinto) ter transferido para a Fundação, em 2005, a propriedade dos edifícios. De acordo com os moradores, em notícias publicadas nos seus blogues (Bairro dos Lóios e Fénix das Amendoeiras) houve «tráfico de influências e favorecimento político entre o IGAPHE e a Fundação», para além de irregularidades várias.

22.2.07

Muito que contar fora do mapa


De Moscovo a Pequim e de Pequim a Moscovo. Dois portugueses atravessaram três países, em seis semanas e trouxeram muito que contar. Durante a viagem foram relatando num blogue as peripécias e as histórias, agora preparam-se para mostrar as fotografias que também ilustraram as palavras.

A partir desta quinta-feira, e durante um mês, nos Goliardos (Rua da Mãe d'Água, nº9), a exposição "De Moscovo até Pequim" apresenta as fotografias de Joana Correia e Francisco Freire, depois da descoberta "mundos distantes e desconhecidos". Hoje, neste espaço de encontro, "vinhos, copos e etc.", os "produtores e actores" contam de viva voz as aventuras "fora do mapa".

Para as 19 horas, os Goliardos não podem acompanhar a viagem com vinhos de Moscovo e Pequim, mas prometem regar a conversa com um "Tinto-Cão bem danado da Quinta da Gaivosa" e uns queijos e presuntos de Foz Côa, "de fazer acordar as gravuras".

[foto: Joana Correia e Francisco Freire, in Fora do Mapa]

21.2.07

Interculturalidade e imigração em palco

Actores e espectactadores envolvidos, num jogo que não se esgota na peça representada. No final, o público pode intervir, subir ao palco, propondo ou actuando com outras soluções para o problema apresentado na peça. A proposta, no mínimo diferente, é do Grupo de Teatro do Oprimido de Lisboa, que leva à cena “Berimbu? Berimbé? Ou que raio isso é!”, onde a interculturalidade, a imigração e a diversidade se cruzam neste teatro-fórum.

De acordo com o grupo, “nesta peça reflecte-se sobre o grau de abertura da nossa sociedade aos que são diferentes, especificamente aos imigrantes que escolhem Portugal para viver”. Em palco, o Teatro do Oprimido apresenta possíveis visões sobre o problema, com os espectadores a apresentarem no fim as soluções do problema.

Esta metodologia foi desenvolvida na década de 1960, no Rio de Janeiro, Brasil, por Augusto Boal, que defendia que “toda a gente pode fazer teatro, até mesmo os actores”. Hoje, é praticada em mais de 70 países e tenta colocar o espectador a reflectir sobre a sua própria realidade.

Com encenação de Diogo Mesquita, a partir de uma criação do grupo, “Berimbu? Berimbé? Ou que raio isso é!” estreia quinta-feira, dia 22, às 22 horas, no Cineteatro A Barraca, em Santos (Lisboa).
Repete às quintas. Em palco serão oito actores, mais os que do público se envolverem.

16.2.07

Reportagens do baú: O diabo em nós

[artigo originalmente publicado no PortugalDiário a 3 de Junho de 2001]



A Igreja «devia tomar uma posição mais radical sobre os exorcismos. Muita gente está a sofrer por causa desta crença». Mas há quem garanta que está possuído


«Nessa cadeira onde você está, já esteve um homem que me ia partindo isto tudo.» Um exemplo de pessoas que se dizem com o diabo no corpo, contado ao PortugalDiário por Joaquim Carreira das Neves.

«Tire-me o demónio», pedem muitas pessoas que se dirigem a este padre. Ele recusa: «Não faço exorcismos.» Mas estuda o fenómeno e acompanha pessoas que se dizem possuídas. Como também acontecia com a pequena Regan no filme de William Friedkin, «O Exorcista», que é tomada pelo diabo.

O filme chegou devagarinho desta vez, sem o escândalo da estreia: a nova versão mais longa e em cópia restaurada estreou recentemente nas salas de cinema e em DVD. O que se vê e ouve no filme «é humano, é natural, não tem que ver com o diabo», explicou Carreira das Neves, professor da Universidade Católica e exegeta bíblico (um investigador que interpreta a Bíblia).

A miúda de 12 anos fala com voz masculina, automutila-se com um crucifixo e tem uma força descomunal capaz de arrastar homens e mobílias. Um comportamento humano e natural. Mas quem é que está no corpo de Regan? O diabo, responderão. Ou o mal. Que é a mesma coisa, acrescenta Carreira das Neves. É nesse sentido que apontam as referências bíblicas aos demónios, a Satanás e ao diabo. «São entidades sem personalidade ontológica, mas funcional. Temos que concluir que são símbolos», clarifica. O diabo não existe como pessoa, «é mesmo uma figuração».

Ser exorcista hoje

Faz então sentido exorcizar? É como que «um placebo», algo que alivia a dor com fins sugestivos ou morais, refere o padre franciscano. A Igreja tem um novo rito do exorcismo, apresentado em 1999, quando não era alterado desde 1614. Baseado num conjunto de orações, esta intervenção exorcista só acontece depois de a ciência, toda a ciência, não apresentar uma solução para disfunções psicológicas. «Aquilo é tudo histerismo», sublinha. A figura do padre é então fundamental porque a pessoa acredita que está possuída. Mas o rito deve ser sempre devidamente acompanhado por médicos.

Carreira das Neves critica a posição da Igreja: «Devia tomar uma posição mais radical [sobre os exorcismos]. Muita gente está a sofrer por causa desta crença.» O que é preciso, antes, é estar disponível para ouvir as pessoas. «Elas precisam de deitar para fora.» Falar, falar, falar.

Para não culpar Deus, culpa-se o diabo e os demónios. E não é coisa da “idade das trevas”: nesta época moderna e pós-moderna, as pessoas vão cada vez mais à bruxa e ao cartomante. «É um problema cultural», comenta o professor universitário. Afinal, em épocas de crise, de depressão económica, política e religiosa, «tudo serve para explicar o mistério da doença, do mal, a Morte». De tal forma que é frequente as pessoas perguntarem: «Que mal fiz eu a Deus?»

A história do diabo – acreditar no diabo e na incorporação do diabo – começa em épocas de crise: os judeus no exílio, desesperados pela libertação que não chegava (afinal, Israel esteve sob o jugo político de estrangeiros do século VI a.C. até... 1948, ano da independência), vêem-se nas mãos de Lúcifer. É nesta altura que nasce a literatura apocalíptica.

«O Exorcista», o filme, permite também um olhar sobre uma América em crise: 1973 seguia-se à crise petrolífera do ano anterior que lançou o mundo numa nova depressão económica; os soldados americanos continuavam a morrer no Vietname; Nixon era apanhado no escândalo de “Watergate”.

Hoje, as pessoas voltam de novo para o demónio. «Facilmente o arquétipo do demónio entra numa pessoa em disfunção», diz Carreira das Neves. «As pessoas já não acreditam como acreditavam na ciência.» E a pequena Regan já não assusta tanto: é humano aquilo que lhe acontece


Diabos, demónios e Satanás

São nomes que habitualmente usamos como sinónimos, mas que apresentam ligeiras diferenças. Demónio vem do grego daimónion, «génio mau», o maligno, enquanto que diabo vem do grego diábolos, ou seja, «caluniador», aquele que divide e nos afasta de Deus. Do hebraico satán, Satanás significa «inimigo, adversário» de Deus, aquele que evita a felicidade dos homens.

[foto: filme «O Exorcista»]

15.2.07

Um pouco mais de cultura

Por gosto e por um pouco mais de cultura, assim se apresenta a Sociedade de Instrução Guilherme Cossoul, em Lisboa. O nome atrapalha, mas refere-se ao compositor e violoncelista português do século XIX e fundador dos bombeiros voluntários em Portugal. «Fundada em 7 de Setembro de 1885 por 47 amadores de música e admiradores», a Sociedade é hoje palco de diferentes espectáculos e workshops de artes.

Este fim-de-semana não foge à regra, e a Sociedade anima a sua noite com um concerto de música "panqueróque", como se gostam de afirmar os grupos da Flor da Caveira, uma peculiar editora musical. A entrada de 2,50 euros dá direito a CD e a ver no palco Os Lacraus, Os Ninivitas, os Pontos Negros e As Velhas Glórias.

Velha glória é Raúl Solnado que já passou pelos palcos da Sociedade e se responsabiliza agora pela supervisão de um curso de teatro.

No mesmo espaço decorre ainda a exposição "Paisagem – Limiar", até dia 29 de Março, apresentando, em quatro momentos e individualmente, trabalhos de Ana Anacleto, Maria João Alves, Martinho Costa e Maria Jorge Martins. A programação regular da Sociedade pode ser acompanhada no seu site.

[foto: Raúl Solnado no palco da SIGC, nos anos 50/Sociedade]

Geografias de um explorador apresentadas em Lisboa

Brasil, Angola e Portugal são os territórios das viagens ficcionadas e reais encetadas por Ruy Duarte de Carvalho no seu novo livro "Desmedida – Luanda, São Paulo, São Francisco e volta. Crónicas do Brasil" (ed. Livros Cotovia), que será hoje apresentado, pelas 18h30, na Livraria Almedina (Atrium Saldanha), em Lisboa, por António Mega Ferreira. Este escritor, bem como o autor brasileiro Bernardo Carvalho, já tinham elogiado Ruy Duarte de Carvalho, quando do lançamento das anteriores obras "Vou lá visitar pastores" (1999) e "As paisagens propícias" (2005).

De acordo com a Cotovia, numa nota de apresentação deste novo livro, "o ponto de partida de Ruy Duarte foi a certeza de que o Brasil sempre foi, desde o início da expansão europeia, um terreno privilegiado para exploradores europeus e americanos. Depois, o autor procurou retratar o modo como absorveu as idiossincrasias de tão vasto país, numa viagem que começa em Luanda, tem como destino a grande metrópole de São Paulo e empreende um longo caminho de descoberta ao longo do rio São Francisco".

Os leitores poderão conhecer estas novas paisagens de Ruy Duarte de Carvalho, hoje ao vivo, ou no recato da leitura.

[foto Daniela Moreau/Cotovia]

14.2.07

Postal desta Lisboa inesperada (II)
- o primeiro contributo dos leitores




















«Bairro Estrela d'Ouro (Graça)» [painel de azulejos, na Rua Virginia]
O leitor António Paulino respondeu ao nosso desafio com várias fotos. Esta é a primeira.

13.2.07

Postal de Lisboa: mais um buraco



















Volta e meia Lisboa mostra as fragilidades de que é feita: esta manhã, na Praça São João Bosco (Prazeres), um buraco no pavimento, junto ao Colégio dos Salesianos, na proximidade da Rua Saraiva de Carvalho, obrigou à colocação de grades e fitas pela Polícia Municipal, assinalando uma área de segurança, numa zona de grande movimento de carros, autocarros e eléctricos, junto a estabelecimentos de ensino.

10.2.07

Reportagens do baú*: Fúria de conduzir

[artigo originalmente publicado no PortugalDiário a 26 de Março de 2002]

REPORTAGEM: Os americanos falam em "road rage", uma doença grave e contagiosa. E estudam-na. Em Portugal, não há dados sobre a agressividade ao volante, mas há casos. Recuperamos um


O Rover cola-se agressivamente à traseira do Ford – e passa-o bruscamente. No segundo veículo, o passageiro reage acenando um "adeus" ao condutor apressado. O aprendiz de Schumacher desacelera: alguém o tinha afrontado. E começa a conduzir para "empatar" a marcha do Ford. No semáforo seguinte, cai oportunamente o vermelho.

O condutor do Rover sai do carro, dirige-se para o Ford e parte o vidro, ferindo na cara o passageiro. Só não volta à carga porque a condutora deste veículo grita "sangue!". O agressor volta para a sua viatura – e segue marcha.

Este caso não é ficcionado. Foi relatado no PortugalDiário, e aconteceu a 2 de Março, em Lisboa. Nesse sábado, André estava longe de imaginar que acabaria com a cara desfigurada pelos estilhaços do vidro do automóvel. Vítima da "fúria ao volante", que muitos dizem ser doença.

Em Portugal, não há estudos sobre estes casos, que os americanos chamam de "road rage" [fúria ao volante]. Mas arriscam-se possíveis respostas: «A estrada é vista como uma situação de competição – não explícita, mas implícita», argumenta Francisco Navalho, psicólogo do Instituto de Reinserção Social (IRS) de Coimbra. «Todos se transfiguram ao volante», acrescenta. Quem nunca gritou, insultou ou se enfureceu a conduzir?

Também a GNR não tem dados sobre a matéria. Como a maior parte dos casos se reportam a injúrias e ofensas corporais, a Brigada de Trânsito não compila números, disse ao PortugalDiário Barão Mendes, oficial de Relações Públicas da corporação. As ocorrências são remetidas para as esquadras.

O IRS está a trabalhar, a nível nacional, num estudo sobre o crime de condução em estado de embriaguez. E algumas das pistas de trabalho podem aplicar-se à condução violenta: «Desvaloriza-se a complexidade da tarefa na condução», refere aquele psicólogo, ou seja, as pessoas acham que conduzir é simples, «um processo tão automático e fácil» quando não é. E pode existir uma tendência para se ser «mais agressivo e menos humilde ao volante».

Nos Estados Unidos, a "road rage" tem sido estudada por psicólogos e autoridades policiais, preocupados com o aumento dos casos e – sobretudo – com o crescimento da intensidade da "raiva": «Antes as pessoas costumavam gritar, agora disparam umas sobre as outras. É uma doença grave, e é contagiosa», observou ao San Francisco Chronicle o psicólogo Arnold Nerenberg, investigador do fenómeno e conselheiro de vítimas e agressores.

Francisco Navalho concorda com a leitura de Nerenberg: «A tensão urbana contagia-se». E explica: «O espaço urbano é denso e tenso, e há imponderáveis que não controlamos» – como fazer um percurso em duas horas, quando se esperava demorar 15 minutos. E geram-se mecanismos de resposta agressiva, que pode ter uma explicação neurológica e evolucionista, refere o psicólogo citando as teses de António Damásio. Que se explicam, de uma forma simplista: o cérebro é formado por camadas que se foram constituindo ao longo da evolução da espécie. A última camada é o córtex, o lado mais "humano", que controla outras camadas, incluindo a mais primitiva e "animal" – o sistema límbico. E nem sempre o córtex controla este sistema límbico.

Como evitar então estas situações? Respondem as autoridades americanas para a segurança rodoviária: «Concentre-se: não se distraia a falar ao telemóvel, a comer ou beber, ou a maquilhar-se. Relaxe: sintonize o rádio com a sua música favorita mais calma. Conduza dentro do limite de velocidade: poucos acidentes acontecem quando os carros circulam a velocidades idênticas ou próximas. Identifique caminhos alternativos: procure outras estradas. O que parece mais longo no mapa pode estar menos congestionado. Utilize os transportes públicos: assim evita o stresse ao volante. Atrase-se: se tudo o resto falha, chegue atrasado.» Apenas isto. Ou como antes se escrevia nas passagens de nível: páre, escute e olhe.


[* - nota: ao fim-de-semana, o LxRepórter recupera antigas reportagens, que de algum modo permanecem actuais]

8.2.07

Postal desta Lisboa inesperada (I)


[escadinhas da Calçada do Lavra, em Lisboa, foto MM, a 7/2/07]

6.2.07

O postal da Lisboa (in)esperada

Eis um desafio do LxRepórter - envie-nos [para mmarujo@gmail.com] uma fotografia da Lisboa (in)esperada: o prédio bonito a cair de podre, o passeio esburacado ou que serve de poiso para carros e presentes de cães, o jardim sem bancos ou de canteiros maltratados, o candeeiro que apenas "ilumina" de dia, mas também o recanto que foi recuperado, a limpeza da rua, a actividade que vale a pena. Comprometemo-nos a publicar aqui a foto (envie com uma breve legenda e o seu nome), para que os lisboetas descubram a cidade que escapa aos jornais e televisões - e , por vezes, aos autarcas da cidade.

As novas procuras de Deus nos dias de hoje

As “novas procuras de Deus” vão ser objecto de mais uma Semana de Estudos Teológicos, que decorrerão na Faculdade de Teologia de Lisboa, de 12 a 16 de Fevereiro. Durante os cinco dias de debates, um conjunto de especialistas ajudará a desenhar as “trajectórias e contextos” de quem hoje vive e procura Deus.

Segundo uma nota da organização desta 28ª Semana, “o cristianismo deve estar historicamente preparado para responder aos novos desafios, na medida em que se apresenta, desde as origens, como proposta de identificação crente que exige uma adesão pessoal, longe das formas religiosas mais correntes na época, fundadas na ancestralidade familiar ou na ordem da civilidade”.

A partir de uma conferência sobre “a construção da identidade no cristianismo das origens”, de José Tolentino Mendonça, os participantes serão depois conduzidos a reflectir sobre novas mediações, estéticas, espirituais e religiosas, que muitas vezes escapam aos “quadros da institucionalidade e normatividade religiosas”.

Outro aspecto que percorrerá a Semana é da necessidade da “grande narrativa eclesial [acolher] a pequena narrativa do sujeito crente”, numa época marcada pelo “desejo de descoberta e realização de si”.

5.2.07

"O Grande Silêncio" faz do cinema um convento

















Chega na próxima quinta-feira, 8 de Fevereiro, às salas de cinema (em Lisboa, no Nimas), o filme “O Grande Silêncio”, com uma aura de sucesso internacional junto da crítica e do público. O documentário do realizador Philipe Gröning penetra no quotidiano dos monges da Cartuxa, do Mosteiro de La Grande Chartreuse, a mais rígida das ordens monásticas católicas.


Num filme que se aproxima das três horas de duração, o silêncio é marca que se impregna, apenas entrecortado por cantos gregorianos das orações dos monges ou os barulhos de quem trabalha, reza, estuda e vive em silêncio. Neste filme, a voz humana surge em escassos momentos, os poucos em que os frades se permitem conversar ou falar.

O cineasta alemão esperou 16 anos para concretizar este projecto. A primeira vez que teve a ideia, em 1984, o prior da comunidade disse-lhe que teria de esperar, por ainda não estarem preparados. Depois, quando conseguiu autorização (um telefonema a dizer-lhe “pode vir”) viveu seis meses (repartidos no tempo) entre os monges, para contemplar o ritmo próprio dos frades.

As filmagens sem luz artificial, sem música adicional, nem comentários, foram as condições impostas pelos cartuxos. E a equipa teria de ser o próprio Gröning. O resultado pode ser visto (a solidão) e ouvido (o silêncio) a partir de quinta-feira. “A maior experiência que um espectador pode ter ao ver um filme é sentir o tempo”, explica Gröning.

“O Grande Silêncio” recebeu o Prémio Europeu de Cinema para Melhor Documentário.

3.2.07

Reportagens do baú*: a Igreja, a política e o aborto

[estes dois artigos foram publicados originalmente no PortugalDiário, quando das eleições presidenciais de 2001 e das legislativas de 2002]

«Já passámos o tempo em que se dizia em quem as pessoas deviam votar»
[12 de Janeiro de 2001]

Não caiu bem em alguns sectores eclesiais a iniciativa de três movimentos anti-aborto que enviaram uma carta aos párocos de todo o país para estes darem uma indicação de voto em Ferreira do Amaral [às eleições presidenciais], o «candidato que mais se aproxima de Cristo».
«Já passámos o tempo em que se dizia em quem as pessoas deviam votar», diz José Manuel Pereira de Almeida, pároco de Santa Isabel, uma freguesia do centro de Lisboa. «Hoje, está mais do que assumido que votar é de acordo com a consciência de cada um», adianta aquele padre, que confirma ter recebido a carta dos movimentos «Mulheres em Acção», «Tudo pela Vida» e «Vida Norte», cujo conteúdo foi divulgado esta sexta-feira no «Independente».
O apelo ao voto no candidato social-democrata não é directo, mas não deixa margem para dúvidas quando se lê na carta: «No próximo fim-de-semana, na Santa Missa, mencione a importância de votar no candidato que mais se aproxime de Cristo, que seja pela Cultura da Vida e que respeite as famílias.»
Pereira de Almeida recusa-se a mencionar tal assunto na missa do próximo domingo: «A homilia tem a ver com os textos do Evangelho, com as leituras do dia, a partir da realidade que vivemos.» Na mesma linha do prior de Santa Isabel, está D. Januário Torgal Ferreira, vigário-geral castrense e bispo auxiliar em Lisboa, que diz que «manda a lei fundamental da deontologia que nenhum padre do altar dê indicações de voto».
Este prelado «desconhecia em absoluto» esta carta, que nem foi objecto de conversa entre os bispos do Patriarcado. «Determinados movimentos têm o atrevimento, injusto e indevido, de se “atirar” ao D. José Policarpo», refere aquele bispo, que apresenta esta carta como uma crítica ao suposto apoio que o patriarca lisboeta terá anunciado a Jorge Sampaio, segundo uma inconfidência da dirigente socialista Edite Estrela.
Estas organizações, que fizeram campanha durante o referendo sobre a despenalização do aborto, sustentam o apelo aos padres de todo o país com a necessidade de escolher também as convicções dos candidatos: «Cabe-nos a nós, cristãos, exercer o nosso dever cívico de voto em consciência escolhendo o candidato presidencial que mais se aproxime da nossa Fé Cristã, que defenda a Vida, a Maternidade e a Família.» E citam João Paulo II, que lembrou que «a Igreja tem o papel de se opor publicamente às leis dos seus países quando elas são a favor do aborto ou quando querem atribuir o mesmo estatuto do Matrimónio às uniões de facto».
Para Januário Ferreira esta atitude revela «um conservadorismo atroz, por muitas razões correctas que estejam por detrás». E ataca: «Se esses movimentos tivessem a coragem de dar a cara e fugissem deste “clericalizar” da situação, quando escrevem aos senhores padres e não aos senhores bispos.»
Já durante o debate do referendo da despenalização da interrupção voluntária da gravidez, o modo de actuação destes movimentos anti-aborto tinha merecido críticas de outros sectores da Igreja portuguesa.


Igreja partida
[7 de Março de 2002]

Os católicos andam de candeias às avessas. Os bispos deixaram claro que o seu voto pode ou deve ser entregue aos partidos do centro-direita [nas eleições legislativas]. Mas há padres e leigos que não aceitam as recomendações. E dizem que as opções políticas nada têm a ver com a fé. Da esquerda à direita, as cores políticas têm muitas igrejas em Portugal.
Apoiar o Bloco de Esquerda (BE) «não incomoda» Francisco Fernandes Vilar, 60 anos, padre em Castelo Mendo e mandatário do movimento na Guarda. A sua «experiência» também não «incomodou» os seus colegas. E «os paroquianos admiram a abertura», disse ao PortugalDiário.
Isabel Allegro diz que o seu apoio ao BE, «a título pessoal», «não tem qualquer contradição com a fé cristã». A mandatária do Bloco em Lisboa é membro do Graal (movimento internacional cristão de mulheres, trazido para Portugal por Maria de Lourdes Pintasilgo e Teresa Santa Clara Gomes). Disse que lhe parece «haver uma grande sintonia de muitas das propostas do BE com a mensagem evangélica, sobretudo na ideia da responsabilidade de todos por um “destino universal dos bens” e por uma justiça social efectiva».
A Associação Cristã de Empresários e Gestores (Acege) deixa algumas «questões fundamentais para o próximo governo de Portugal», que deve respeitar cinco «princípios». «Não há direcção de voto», refere Bruno Bobone, porta-voz da associação. O voto deve ser para «os partidos que cumpram estes valores». Leiam-se as entrelinhas.
A Acege propõe «evitar efeitos perversos contra o fomento do Trabalho e contra o estímulo para a inovação e melhoramento das empresas». Bobone recusa que se esteja a falar apenas do rendimento mínimo garantido (RMG), uma das medidas emblemáticas de Ferro Rodrigues: «Não se trata de discutir o RMG isoladamente, trata-se de uma tendência para patrocinar programas que estimulam a preguiça e a indolência.»
Empresários e gestores como Artur Santos Silva, Ludgero Marques, Magalhães Crespo, Jorge Jardim Gonçalves, Nogueira de Brito, José Roquete, Teixeira Duarte ou Ricardo Salgado, querem defender «intransigentemente os direitos humanos fundamentais, a Vida Humana desde a concepção até à morte natural». Falamos de aborto? «Claramente, matar está errado», remata Bobone.
«Sobre o próximo acto eleitoral» pronunciaram-se os bispos portugueses. Numa «Nota pastoral do Conselho Permanente da Conferência Episcopal Portuguesa», os prelados dirigem-se aos «fiéis católicos», para lembrar que a «criteriosa intervenção na vida pública» deve ser regida pelos «princípios inspiradores do Evangelho e da doutrina da Igreja».
Os bispos recusam «imiscuir» a sua opinião nas «justas opções partidárias», mas pretendem «contribuir para um justo discernimento dos cristãos». O ensino religioso nas escolas públicas ou temas que voltaram à tona, como o aborto, são alguns alvos das palavras episcopais: «O respeito pelo carácter sagrado da vida humana, de toda a vida humana, desde a concepção até à morte natural», lê-se.
O aborto é uma nota dissonante. «Ninguém pode ser a favor do aborto, mesmo aqueles que não são cristãos», diz Isabel Allegro, que defende o seu apoio ao BE por outras “causas”: «O aborto não é o ponto primeiro do programa.» Antes está a defesa de «uma maior igualdade de oportunidades», de «uma maior justiça fiscal e de distribuição dos bens» – e o «BE é o partido que traz isso mais claramente à superfície».
Mas o aborto está aí. E Allegro não evita confrontar o discurso oficial da Igreja: «Não é a questão do aborto em si que está em causa. Trata-se é da despenalização das mulheres que um dia, por razões que desconhecemos, fizeram aborto. O problema surge quando somos confrontados com a circunstância de milhares de mulheres em Portugal o fazerem clandestinamente e não poderem ser tratadas nos hospitais. Aí é que se põe o problema.» «É que ninguém tem o direito de julgar essa atitude íntima dessas mulheres. É um erro humano, e até cristão», sublinha.

[* - nota: ao fim-de-semana, o Lx Repórter recupera antigas reportagens, que de algum modo permanecem actuais]

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