[publicado originalmente a 23 de Dezembro de 2000 no
PortugalDiário]
REPORTAGEM: Do padre-cibernauta às paróquias com neve ou aviões de jacto nas páginas de abertura, o panorama dos sítios católicos na rede desenhava-se assim em 2000. «Bem-hajais pelo vosso interesse»«A Igreja tem de estar a 'full-time' na Internet». Quem o diz é o «padre Júlio», porventura o mais conhecido sacerdote-cibernauta do país, em conversa com o
PortugalDiário. Júlio Grangeia, pároco em Travassô e Óis da Ribeira, duas freguesias do concelho de Águeda, disponibiliza todos os dias algum do seu tempo à navegação na rede, onde mantém uma
página pessoal desde 1997, já visitada por mais de 37 mil pessoas.
A Internet pode ser um «meio alternativo ou complementar, não um meio exclusivo» de evangelização, adianta aquele padre. Também porque «o discurso oficial é cada vez menos compreendido» e o mundo da rede permite chegar de outras formas aos «paroquianos da aldeia global».
Para responder a dúvidas ou apenas conversar, muitos encontram-se num '
chat' (em #padres_online da PT.net) onde vários religiosos, incluindo uma freira espanhola, que se associaram a Júlio Grangeia, vão respondendo aos cibernautas curiosos. Muitos são «marginalizados» pelo discurso e prática da própria Igreja. Seguros no anonimato dos 'nicknames', todos podem fazer perguntas, «quando não encontram nos seus párocos» a abertura e proximidade para as abordar.
O bispo de Aveiro, a diocese de Júlio Grangeia, «compreende» a actividade cibernáutica do seu padre e entretanto convocou-o a dinamizar um grupo que informatize as paróquias aveirenses.
Em Novembro de 1997, os bispos portugueses aprenderam a navegar na rede, durante uma assembleia geral do episcopado. D. João Alves, bispo de Coimbra e então presidente da Conferência Episcopal, convidou os seus pares a conhecer as «auto-estradas da informação» com o objectivo de colocar cada região eclesiástica na Internet. Passados três anos, só é possível aceder a 11 das 20 dioceses - e as assimetrias do país, também se notam aqui: das dioceses 'off-line' a quase totalidade é do interior (excepto Viana do Castelo).
Na página da
diocese do Porto é possível encontrar um fórum de «diálogo com o bispo», que privilegia por enquanto «o contacto com a Comunicação Social de âmbito nacional». D. Armindo Lopes Coelho «disponibiliza-se para responder às questões que lhe forem colocadas por esta via». Na página de abertura, aquele bispo apela a que se viaje «como amigos pelas auto-estradas da Internet, como parceiros da mesma causa em caminhos de tolerância e compreensão, de amizade e de paz».
Esteticamente muito simples, sem muita imaginação, a maior parte dos sítios limita-se a apresentar alguns dados históricos, o perfil e contacto de bispos e órgãos diocesanos e, eventualmente, alguma documentação (Santarém, por exemplo, ainda que não tenha página própria, disponibiliza uma
carta pastoral do seu bispo sobre uma peregrinação diocesana a Fátima).
Júlio Grangeia diz que «os 'sites' são formais, muito estereotipados e pouco apelativos». Aquele padre refere que a Igreja portuguesa ainda «está a descobrir» este mundo, mas de uma «forma incipiente» - o que explicará, porventura, a fraca qualidade gráfica e de conteúdos da generalidade das páginas 'católicas'.
A linguagem mantém o arcaísmo próprio de uma instituição como a Igreja, que muitas vezes desconfia das novidades: «Bem-hajais pelo vosso interesse», agradece em tom solene o bispo de Coimbra na
página de abertura da sua circunscrição cibernética. «Mais importante do que dizer, é a forma como se diz», alerta Júlio Grangeia, que reconhece «usar e abusar», por isso, de «formas menos canónicas» na sua página pessoal, como o diabinho (mais simpático, que diabólico) que remete para uma fotografia sua.
Na navegação do
PortugalDiário, feita por estes dias, foram encontrados alguns pormenores quase anedóticos: uma paisagem de neve a acolher os visitantes numa página de uma
paróquia alentejana ou uma fotografia de aviões a jacto a dar as boas-vindas aos cibernautas que 'aterram' em
Vilarinho do Bairro, uma freguesia da diocese de Coimbra.
São 71 as paróquias registadas no directório «
Paróquias de Portugal» (a última foi adicionada a 13 de Dezembro), uma porta de entrada possível. Uma página mais completa - e das mais conseguidas -, para aceder a este mundo é o '
site' oficial da Igreja Católica em Portugal.
A paróquia com a população mais jovem de Viana do Castelo,
Nossa Senhora de Fátima, mantém uma sondagem sobre a necessidade de rever ou não a Concordata (o tratado que regula as relações entre Portugal e o Vaticano), polémica suscitada há largos meses pelo Bloco de Esquerda. E os resultados são concludentes, apesar dos escassos 21 votos: 76,1 por cento desejam a revisão daquele documento. Apenas 14,2 por cento recusam 'mexer' na Concordata e 9,5 por cento dos votantes não manifestam opinião.
«O pop-rock de mensagem cristã tem um nome» é como se apresenta o grupo musical
Golgotha, que parece mais próximo de uma qualquer banda de heavy-metal a avaliar pela 'iconografia'. Para além da música, a Internet proporciona várias possibilidades aos mais apressados e que não têm tempo para entrar numa igreja. Há quem assegure uma
oração diária on-line (em português) e quem absolva os seus pecados, num
confessionário virtual (apenas em inglês).
Pelo mundo fora, as Igrejas locais adequam-se a esta nova possibilidade de chegar a mais gente. O
Vaticano mantém um sítio adequadamente 'clássico', que possibilita ainda um passeio pelos seus museus. Outras páginas proporcionam uma informação mais variada ou especializada - como a lista de todos os
santos da Igreja católica (com actualizações regulares devido à acção do Papa João Paulo II) ou dois centros de informações católicos na Internet (
http://www.catholic.net/ e
http://www.cin.org/).
[* - o LxRepórter recupera algumas reportagens que permanecem actuais. Nota: Alguns links já não estão a funcionar e os dados sobre outros estão obviamente desactualizados.]