Lx Repórter

Um blogue de notícias, publicado por Miguel Marujo, jornalista com a carteira profissional nº 5950. O ponto de partida do repórter é Lisboa, mais como espaço físico onde se situa o jornalista, do que como único motivo de reportagem. Aqui não descobrirá a história ao minuto, mas uma tentativa de manter um olhar atento e, eventualmente, diferente sobre a Cidade. Envie-nos o seu alerta, a sua sugestão ou o seu comentário para mmarujo@gmail.com

10.6.07

O fim

Este blogue fechou com uma reportagem sobre desemprego, a 14 de Maio, dia em que deixei de estar desempregado, dia em que este blogue como espaço de notícias deixou de fazer sentido. Agradeço a todos os que acompanharam a aventura - e que me enviaram mil e uma pequenas dicas de coisas que se passavam nesta nossa cidade. Obrigado.

Até breve,
Miguel Marujo

14.5.07

Reportagens do baú*: Quando as pessoas não são números

[artigo originalmente publicado a 11 de Outubro de 2002 no PortugalDiário]


REPORTAGEM: Há empresas que tentam evitar despedimentos. E que partilham os lucros com os mais pobres. «Eu sou do tempo em que o bom empresário era o que contratava, o que criava emprego», avisa Bagão Félix


«Há algo que precisa de ser dito: o que incomoda mais é que hoje os gurus da economia são os que despedem mais pessoas, não os que criam emprego. Eu sou do tempo em que o bom empresário era o que contratava, o que criava emprego. É contra essa sociedade rude que eu me insurjo». Quem assim falou foi o ministro da Segurança Social e do Trabalho, Bagão Félix. E disse-o em entrevista ao PortugalDiário.

Católico militante, o governante talvez não desconheça uma experiência que empresários e gestores estão a pôr em prática: economia de comunhão - um nome que traduz um projecto católico de solidariedade. Mas que não tem "cor": «Não é uma experiência restrita. Há pessoas não crentes, de outras religiões», explicou ao PortugalDiário Filipe Coelho, da Amu - Acções para um Mundo Unido (a organização não-governamental que promove a experiência em Portugal).

Em Aveiro, onze empresas fecharam para férias e não voltaram a abrir. 360 trabalhadores ficaram sem emprego. Em Braga, 25 empresas fecharam na mesma situação. Mais 1500 trabalhadores sem emprego.

Uma empresa que abrace a economia de comunhão procuraria outra solução, garante Cristina Marques, outra dirigente da Amu: «Se estiver em risco a própria sobrevivência da empresa, é necessário encontrar alternativas para trabalhadores que eventualmente estejam a mais». Filipe Coelho sublinha: «As pessoas não são números. Não se põe logo em cima da mesa a solução mais fácil».

Afinal, diz Coelho, «o lucro não é o centro único e prioritário de toda a actividade, mas sim o ser humano, que é o centro do agir da empresa e do empresário». Deotilde Araújo, empresária que abraçou esta «filosofia de vida», parece confirmar esta ideia: «O negócio é sempre um risco, mas podemos medir esse risco. Se calhar, a minha algibeira pode levar menos para casa».

As empresas envolvidas na experiência da economia de comunhão comprometem-se a "levar menos na algibeira": «O lucro não é exclusivamente destinado» às empresas, esclarece Cristina Marques. São antes destinados a um «bolo comum, recolhido em cada país e enviado para uma coordenação internacional», explica Filipe Coelho. «Não é uma quota, nem uma taxa. O empresário pode precisar de investir na sua empresa».

Em cada país, agentes locais «identificam pessoas que precisam da ajuda» desse bolo comum.

Uma ideia invulgar

A experiência da "Economia de Comunhão na Liberdade", o nome original da proposta de Chiara Lubich, fundadora do movimento católico dos Focolares, nasceu de uma visita desta italiana ao Brasil, impressionada pelo contraste entre uma das maiores concentrações de arranha-céus do mundo e as favelas que "mancham" a cidade de São Paulo.

A economia de comunhão é «uma das várias expressões que vão fazendo uma revolução silenciosa» no mundo do trabalho, assegura Filipe Coelho. E cita outros exemplos: o microcrédito e o comércio justo. Mas os promotores da experiência sublinham que é um «projecto-criança», uma «realidade nova». E que precisa de crescer.

O projecto radica-se numa «cultura do dar», que - segundo os seus promotores - ultrapassa a forma invulgar de repartir o lucro das empresas. «Tal como temos de arranjar dinheiro para os impostos, temos de arranjar para isto», explica Deotilde Araújo, que gere com o marido uma pequena empresa de contabilidade em Sobral de Monte Agraço. «Privilegiamos mais um bom ambiente de trabalho do que ter outras coisas», defende.

Ao abraçar este projecto, Deotilde sabe que está sob o escrutínio de trabalhadores, fornecedores e clientes: «Não podemos criar situações que os façam duvidar» da experiência. Mas, adverte, não faz disto bandeira, «é uma empresa normalíssima». Prefere fazer. «Há dores, há problemas para resolver, como em tudo, como nas nossas famílias».


[* - o LxRepórter recupera algumas reportagens que permanecem actuais]

11.5.07

Sabores de todo o mundo no jardim da Estrela

Encontros e debates, sabores e sons, animação infantil e imagens do mundo: esta é a proposta para quem se deslocar este fim-de-semana ao Jardim da Estrela, em Lisboa, onde decorrerá o Fórum de Comércio Justo. A partir desta sexta-feira, às 17h30, hora da abertura oficial até domingo ao entardecer, "O som, a imagem e o sabor do mundo" é o mote para este espaço.

Do programa destaca-se a organização de oficinas para crianças, uma primeira com "os actores do comércio justo" e uma segunda dedicada a "jogos do mundo". Estas oficinas, bem como os espaços de debate, são – nas palavras da organização do fórum – momentos de "sensibilização para a temática do comércio justo, bem como para algumas das áreas transversais necessárias ao desenvolvimento sustentável – protecção ambiental, consumo sustentável, capacitação dos produtores e igualdade de género".

Esta sexta-feira, o fórum é ainda palco do lançamento de uma publicação sobre "Consumo público, consumo ético" que "pretende ser uma ferramenta útil para todos os que se preocupam com estas questões e que querem ter uma voz activa na forma como o Estado desempenha as suas funções.

As refeições são ao sabor dos quatro cantos do mundo. "Menus eco-solidários" (aos pequenos-almoços, almoços e jantares) são servidos aos visitantes. O de hoje é acompanhado de danças orientais pelo Grupo Shamsa.

No domingo, quase no fecho deste evento, tem lugar um debate com organizações de comércio justo internacionais com o tema "O Comércio Justo face aos novos desafios comerciais".

Este Fórum é organizado pela coordenação Cores do Globo do Projecto Consumo Responsável, em parceria com o CIDAC e a "Reviravolta", e com o apoio do IPAD.

9.5.07

Manifestação a favor de Carmona convocada por e-mail interno

A manifestação de apoio a Carmona Rodrigues que reuniu de forma alegadamente espontânea funcionários da Câmara Municipal de Lisboa (CML), no passado dia 4, foi convocada pela “mailing list” interna da autarquia.

A iniciativa, que partiu do endereço electrónico de três funcionárias da Direcção Municipal de Finanças da CML, convidava os funcionários a reenviarem a mensagem. No e-mail, a que o LxRepórter teve acesso, redigido em maiúsculas em seis linhas, era indicado local e hora de encontro para a manifestação. E rematava com uma estranha indicação: “Vamos também, se se justificar ter a cobertura televisiva” [sic].

Eis o texto na íntegra:
«VAMOS APOIAR O NOSSO PRESIDENTE
PONTO DE ENCONTRO NO CAMPO GRANDE 25 ATRIO CENTRAL OU PAÇOS DO CONCELHO CONSUANTE [sic] ESTEJAM MAIS PERTO A PARTIR DAS 15H00
POR FAVOR CONFIRMEM A VOSSA PRESENÇA REENVIANDO ESTA MENSAGEM
VAMOS TAMBÉM, SE SE JUSTIFICAR TER A COBERTURA TELEVISIVA
POR FAVOR NÃO FALTES»

Na altura, largas dezenas de funcionários concentraram-se no edifício municipal do Campo Grande, juntamente com o vereador Pedro Feist, que desde a primeira hora se manifestou a favor da continuidade de Carmona Rodrigues, mesmo que este fosse constituído como arguido.

7.5.07

A Alta de Coimbra vista em Lisboa

Sobe-se a Monsanto, para melhor descobrir o futuro da Alta de Coimbra. Em Lisboa, na Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica, uma exposição apresenta o projecto de candidatura da Universidade de Coimbra a Património Mundial da UNESCO, até 24 de Maio.

A requalificação da Alta de Coimbra está entregue a nomes importantes da arquitectura portuguesa, que virão a Lisboa explicar os projectos que lhes cabem e que permitirão depois ao Gabinete de Candidatura à UNESCO (GCU) apresentar toda a zona da Alta da cidade dos estudantes e a Universidade a Património da Humanidade.

A acompanhar a exposição "Alta entre vistas", que pode ser visitada todos os dias úteis, das 10 às 17 horas, o GCU promove quatro conferências sobre os projectos. A primeira apresentação, que terá lugar quinta-feira, dia 10, cabe a João Mendes Ribeiro, o arquitecto responsável pelas intervenções no Laboratório Químico, na Casa das Caldeiras e no Teatro Paulo Quintela. A 17, Álvaro Siza e António Madureira explicam o projecto da nova Biblioteca da Faculdade de Direito a instalar na Casa dos Melos.

Por fim, numa semana duas conferências: uma a 22, terça-feira, por Victor Mestre sobre o projecto do Auditório da Reitoria e o espaço envolvente, o Pátio do Departamento de Física e Química; e outra a 24, quinta-feira, no último dia em que será possível visitar a exposição, com Gonçalo Byrne a intervir sobre a reabilitação do Pátio das Escolas, a construção do parque de estacionamento no Largo D. Dinis, o CIDUC (Centro de Informação e Documentação da Universidade de Coimbra) e a reabilitação do edifício da Associação Académica de Coimbra.

As conferências têm sempre lugar às 10 horas, no espaço da exposição, no edifício do Cubo, na Faculdade de Arquitectura de Lisboa. Subir a Monsanto para melhor ver como ficará a Alta de Coimbra.

[na imagem: maquete do projecto de Gonçalo Byrne para o "Concurso de Ideias ara o Plano de Reconversão dos Espaços dos Colégios de São Jerónimo, das Artes, Laboratório Químico e área envolvente", lançado em 1995 pela Reitoria da Universidade de Coimbra (UC) e aberto a quatro professores do Departamento de Arquitectura da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC, em exposição anterior; foto GCU]

30.4.07

Mais da Lisboa inesperada

O ritmo do LxRepórter tem sido muito irregular, por várias razões pessoais. Enquanto isso, deixamos esta nova imagem de uma Lisboa inesperada, do Rui Almeida, que já distribui poesia pela rua. Que outros nos façam chegar também os seus olhares sobre Lisboa (para mmarujo@gmail.com).



Indicação de trânsito para peões na Rua de Barros Queirós (que liga o Largo de S. Domingos à zona do Martim Moniz)

21.4.07

Reportagens do baú*: Direita é quem mais falta no Parlamento

[artigo originalmente publicado a 27 de Julho de 2005 no PortugalDiário e no jornal Metro]

POLÍTICA: Deputados «laranjas» faltaram 249 vezes ao plenário, mas os do CDS-PP são os que, em média, mais estiveram ausentes. Motivos vão da doença ao trabalho parlamentar. Estes números podem ajudar a discutir o actual modelo constitucional


O PSD é o partido mais faltoso nesta legislatura [2005], com os seus 75 deputados a totalizarem 249 faltas, em 40 reuniões plenárias e uma reunião da comissão permanente. Num só dia, curiosamente uma "ponte", a 27 de Maio, faltaram 55 parlamentares. Os deputados dos seis partidos faltaram 569 vezes com ou sem justificação. Há quem defenda que estes números podem ajudar a discutir o actual modelo constitucional. Esta quinta-feira, realiza-se a última reunião do plenário antes das férias.

Desde 10 de Março [de 2005], na abertura da X Legislatura, o único dia em que todos compareceram, os deputados sociais-democratas acumularam 249 ausências, os socialistas 222, os do CDS 50, os comunistas 27, os "bloquistas" 17 e os "verdes" quatro, de acordo com o Diário da Assembleia da República.

Em termos relativos, se o mal fosse distribuído por cada um dos assentos, os "populares" eram os mais absentistas, com uma média de 4,16 faltas por deputado, e os socialistas os menos - apenas 1,83 faltas por cada parlamentar (número que beneficia por ser o maior grupo parlamentar). Entre estes extremos, os partidos de oposição à esquerda têm médias que se equivalem: "Os Verdes" teria duas faltas por deputado, o BE 2,125 e o PCP 2,25. À direita, o PSD aproxima-se mais do CDS-PP (3,32 de média).

«Se fossem tecnicamente faltas, já teriam perdido o mandato», alerta Nuno Ferreira da Silva, chefe de gabinete do grupo parlamentar do PS. Um deputado que falte quatro vezes sem apresentar um motivo válido - que é «a doença, o casamento, a maternidade e a paternidade, o luto, missão ou trabalho parlamentar e o trabalho político ou do partido a que o deputado pertence», segundo o Estatuto do Deputado - perde o lugar.

O deputado do PSD, Virgílio Almeida Costa - que ocupa ex aequo o topo da lista, por doença («não é esse o meu percurso anterior como deputado», esclarece ao PortugalDiário) -, defende um debate sobre o actual modelo constitucional. «Um deputado serve melhor o eleitor a ouvi-los onde estão, ou a estar no plenário a bater palmas a coisas previamente decididas pelos directórios partidários», questiona.

O parlamentar "laranja" eleito por Braga duvida da necessidade de reduzir o número de lugares na Assembleia da República, como defende o líder do PSD, Marques Mendes. «Não é por aí que as contas estão desequilibradas. O número de deputados é adequado à realidade demográfica», defende. E, provocador, Virgílio Costa diz que acha ser «pouco relevante a presença hemiciclo e muito relevante o contacto com o eleitor».

Do PS, Ferreira da Silva entende que «os deputados são eventualmente os mais vigiados» no exercício da sua profissão e entende que as faltas se justificam por «trabalho parlamentar e político».

Se no topo, a doença afastou do plenário Virgílio Almeida Costa e a deputada socialista Matilde Sousa Franco (ambos com 16 ausências justificadas), a lista que se segue apresenta parlamentares que reivindicarão os mais diferentes argumentos para as suas faltas (o PortugalDiário procurou sem sucesso ainda ouvir as reacções dos grupos parlamentares do PSD e CDS): Gonçalo Nuno Santos, do PSD (15 faltas), Paulo Portas, do CDS-PP (14), Manuel Maria Carrilho e João Soares, do PS (12, por «trabalho político», segundo a fonte do grupo), e depois uma lista de seis eleitos com 11 faltas (Carlos Alberto Pinto, Dias Loureiro, José Cesário, José Luís Arnaut, Pereira da Costa, todos do PSD, e Jerónimo de Sousa, do PCP). Os ex-governantes do PSD, Jorge Neto e Paulo Rangel, não compareceram dez vezes, o líder do PSD, Marques Mendes, e o deputado do PS, António Vitorino, nove.

Da leitura do jornal oficial do Parlamento, ressaltam dois dias: a sessão do 25 de Abril, em que a direita optou pela ausência (28 deputados do PSD e seis do CDS), e o dia 27 de Maio, entre um feriado e o fim-de-semana, com 25 parlamentares socialistas absentistas, 25 "laranjas", quatro "populares" - entre os quais Nuno Melo, líder parlamentar, e Portas -, e um deputado do BE.


[* - o LxRepórter recupera algumas reportagens que permanecem actuais]

9.4.07

Postais de Lisboa: uma má prática na cidade


[esplanada do restaurante Pic-nic, no Rossio, em Lisboa, hoje às 13 horas; foto de telemóvel por MM]


Lisboa é uma cidade que vive de costas voltadas para o sol. Ao contrário de Paris ou Londres, onde é possível gozar esplanadas em dias improváveis, a capital portuguesa não parece tirar partido da magnífica luz que a cidade tem. Mas nem tanto ao mar, nem tanto à terra: há cafés e restaurantes que, por vezes, se julgam donos e senhores do espaço público, como demonstra a foto tirada hoje no Rossio.

Os responsáveis do restaurante Pic-nic entenderam por bem ocupar quase toda a largura do passeio, com mesas e cadeiras para aumentar a já generosa esplanada, em dia de muito sol e turistas, mas sem deixarem muito espaço para lisboetas e visitantes passarem, numa zona de intenso movimento pedonal. Restava a alternativa de dois estreitos corredores entre as mesas e entre estas e uma paragem do autocarro. Se esta ocupação for ilegal, lamenta-se a pouca celeridade da fiscalização camarária (tão lesta noutros casos, como o do cartaz dos Gatos Fedorentos), se for legal, mais se lamenta que a autarquia pactue com uma imagem tão desmazelada da cidade.

6.4.07

Reportagens do baú*: «Igreja tem de estar a 'full-time' na Internet»

[publicado originalmente a 23 de Dezembro de 2000 no PortugalDiário]

REPORTAGEM: Do padre-cibernauta às paróquias com neve ou aviões de jacto nas páginas de abertura, o panorama dos sítios católicos na rede desenhava-se assim em 2000. «Bem-hajais pelo vosso interesse»


«A Igreja tem de estar a 'full-time' na Internet». Quem o diz é o «padre Júlio», porventura o mais conhecido sacerdote-cibernauta do país, em conversa com o PortugalDiário. Júlio Grangeia, pároco em Travassô e Óis da Ribeira, duas freguesias do concelho de Águeda, disponibiliza todos os dias algum do seu tempo à navegação na rede, onde mantém uma página pessoal desde 1997, já visitada por mais de 37 mil pessoas.

A Internet pode ser um «meio alternativo ou complementar, não um meio exclusivo» de evangelização, adianta aquele padre. Também porque «o discurso oficial é cada vez menos compreendido» e o mundo da rede permite chegar de outras formas aos «paroquianos da aldeia global».

Para responder a dúvidas ou apenas conversar, muitos encontram-se num 'chat' (em #padres_online da PT.net) onde vários religiosos, incluindo uma freira espanhola, que se associaram a Júlio Grangeia, vão respondendo aos cibernautas curiosos. Muitos são «marginalizados» pelo discurso e prática da própria Igreja. Seguros no anonimato dos 'nicknames', todos podem fazer perguntas, «quando não encontram nos seus párocos» a abertura e proximidade para as abordar.

O bispo de Aveiro, a diocese de Júlio Grangeia, «compreende» a actividade cibernáutica do seu padre e entretanto convocou-o a dinamizar um grupo que informatize as paróquias aveirenses.

Em Novembro de 1997, os bispos portugueses aprenderam a navegar na rede, durante uma assembleia geral do episcopado. D. João Alves, bispo de Coimbra e então presidente da Conferência Episcopal, convidou os seus pares a conhecer as «auto-estradas da informação» com o objectivo de colocar cada região eclesiástica na Internet. Passados três anos, só é possível aceder a 11 das 20 dioceses - e as assimetrias do país, também se notam aqui: das dioceses 'off-line' a quase totalidade é do interior (excepto Viana do Castelo).

Na página da diocese do Porto é possível encontrar um fórum de «diálogo com o bispo», que privilegia por enquanto «o contacto com a Comunicação Social de âmbito nacional». D. Armindo Lopes Coelho «disponibiliza-se para responder às questões que lhe forem colocadas por esta via». Na página de abertura, aquele bispo apela a que se viaje «como amigos pelas auto-estradas da Internet, como parceiros da mesma causa em caminhos de tolerância e compreensão, de amizade e de paz».

Esteticamente muito simples, sem muita imaginação, a maior parte dos sítios limita-se a apresentar alguns dados históricos, o perfil e contacto de bispos e órgãos diocesanos e, eventualmente, alguma documentação (Santarém, por exemplo, ainda que não tenha página própria, disponibiliza uma carta pastoral do seu bispo sobre uma peregrinação diocesana a Fátima).

Júlio Grangeia diz que «os 'sites' são formais, muito estereotipados e pouco apelativos». Aquele padre refere que a Igreja portuguesa ainda «está a descobrir» este mundo, mas de uma «forma incipiente» - o que explicará, porventura, a fraca qualidade gráfica e de conteúdos da generalidade das páginas 'católicas'.

A linguagem mantém o arcaísmo próprio de uma instituição como a Igreja, que muitas vezes desconfia das novidades: «Bem-hajais pelo vosso interesse», agradece em tom solene o bispo de Coimbra na página de abertura da sua circunscrição cibernética. «Mais importante do que dizer, é a forma como se diz», alerta Júlio Grangeia, que reconhece «usar e abusar», por isso, de «formas menos canónicas» na sua página pessoal, como o diabinho (mais simpático, que diabólico) que remete para uma fotografia sua.

Na navegação do PortugalDiário, feita por estes dias, foram encontrados alguns pormenores quase anedóticos: uma paisagem de neve a acolher os visitantes numa página de uma paróquia alentejana ou uma fotografia de aviões a jacto a dar as boas-vindas aos cibernautas que 'aterram' em Vilarinho do Bairro, uma freguesia da diocese de Coimbra.

São 71 as paróquias registadas no directório «Paróquias de Portugal» (a última foi adicionada a 13 de Dezembro), uma porta de entrada possível. Uma página mais completa - e das mais conseguidas -, para aceder a este mundo é o 'site' oficial da Igreja Católica em Portugal.

A paróquia com a população mais jovem de Viana do Castelo, Nossa Senhora de Fátima, mantém uma sondagem sobre a necessidade de rever ou não a Concordata (o tratado que regula as relações entre Portugal e o Vaticano), polémica suscitada há largos meses pelo Bloco de Esquerda. E os resultados são concludentes, apesar dos escassos 21 votos: 76,1 por cento desejam a revisão daquele documento. Apenas 14,2 por cento recusam 'mexer' na Concordata e 9,5 por cento dos votantes não manifestam opinião.

«O pop-rock de mensagem cristã tem um nome» é como se apresenta o grupo musical Golgotha, que parece mais próximo de uma qualquer banda de heavy-metal a avaliar pela 'iconografia'. Para além da música, a Internet proporciona várias possibilidades aos mais apressados e que não têm tempo para entrar numa igreja. Há quem assegure uma oração diária on-line (em português) e quem absolva os seus pecados, num confessionário virtual (apenas em inglês).

Pelo mundo fora, as Igrejas locais adequam-se a esta nova possibilidade de chegar a mais gente. O Vaticano mantém um sítio adequadamente 'clássico', que possibilita ainda um passeio pelos seus museus. Outras páginas proporcionam uma informação mais variada ou especializada - como a lista de todos os santos da Igreja católica (com actualizações regulares devido à acção do Papa João Paulo II) ou dois centros de informações católicos na Internet (http://www.catholic.net/ e http://www.cin.org/).


[* - o LxRepórter recupera algumas reportagens que permanecem actuais. Nota: Alguns links já não estão a funcionar e os dados sobre outros estão obviamente desactualizados.]

26.3.07

Mais de Lisboa inesperada (numa pausa do LxRepórter)

O LxRepórter faz uma pausa de duas semanas. E promete regressar a 9 de Abril com mais notícias. Até lá deixamos novos retratos de uma Lisboa inesperada, pela lente atenta do leitor António Paulino. Que outros nos façam chegar também os seus olhares sobre Lisboa (para mmarujo@gmail.com).



















Igreja de Nª Sª da Oliveira (escondida) na Baixa [em cima]


















Relógio (Graça) [em cima]



















Urinol (junto ao Castelo de S. Jorge) [em cima]

25.3.07

Reportagens do baú*: Quando os miúdos viajam na "chapeleira"

[artigo originalmente publicado no PortugalDiário a 8 de Agosto de 2003]


REPORTAGEM: Há erros comuns no transporte das crianças nos automóveis. Mas também situações incríveis. "À solta", as crianças podem sofrer lesões graves ou mesmo morrer


As crianças viajam muitas vezes sem protecção adequada e mesmo nos lugares mais incríveis. Numa época em que as famílias se fazem à estrada para gozo de férias, a preocupação pelo transporte dos mais pequenos continua presente. A Associação para a Promoção da Segurança Infantil (APSI) não deixa de alertar para o perigo de viajar com uma criança "à solta" no automóvel.

O erro mais comum de muitos pais é a não protecção das crianças com sistema de retenção adequado, como a vulgar "cadeirinha", ou até cintos de segurança, assegurou ao PortugalDiário José Pedro Dias, técnico em segurança rodoviária da APSI.

Entre as situações mais absurdas, encontradas recentemente por técnicos da APSI, está o transporte de crianças no porta-bagagens de carros comerciais e miúdos «a dormir deitadas na chapeleira». O perigo é evidente, constata o especialista: «Um perigo agravado de lesões muito graves e morte por embate nas estruturas rígidas do automóvel e/ou por ejecção para a faixa de rodagem», mesmo a baixas velocidades.

Entre aqueles que usam dispositivos de segurança, há erros que «podem diminuir a eficiência da protecção dada às crianças», refere José Pedro Dias. E exemplifica: «Viajar com a criança voltada para a frente demasiado cedo», que é como quem diz, pelo menos até aos 18 meses. Segundo o técnico da associação, a criança deve «até quanto mais tarde melhor» andar de costas: «Devido ao peso da sua cabeça, muito elevado em comparação com o do corpo, e ao seu pescoço muito frágil», esclarece.

O abandono da utilização de uma cadeira para crianças não deve ser feito demasiado cedo. Como diz José Pedro Dias, «devido à sua pequena estatura, o cinto de segurança precisa de ser complementado com a utilização de uma cadeira de apoio, até a criança ter 12 anos, 36 quilos ou um metro e meio de altura».

Outra preocupação da APSI é a fixação das cadeirinhas nos automóveis. As folgas eventualmente dadas na sua fixação podem revelar-se fatais, de acordo com o técnico: «As folgas diminuem o espaço de sobrevivência disponível e, por isso, as possibilidades de sobrevivência da criança em caso de acidente». Outra hipótese é «a criança ser "cuspida" da "cadeirinha" e ir bater no interior do automóvel ou ser esmagada na estrada».

A crueza da imagem remete para as frias estatísticas: em 2002, morreram 29 crianças, mais uma que em 2001. Em Janeiro de 2003 (últimos dados disponíveis) morreram três menores de 14 anos. É entre os 10 e os 14 anos que se morre mais (12 vítimas mortais), segundo os números da Direcção-Geral da Viação, registados no «Relatório Estatístico da Sinistralidade 2002». Antes dos cinco anos de idade, o número é de 11 mortos.

Estes números são agravados com as estatísticas dos feridos graves: 165, até aos 14 anos (62 feridos até aos cinco anos, 41 entre os seis e os nove, e outros 62 dos 10 aos 14 anos). Apesar da diminuição em relação a 2001 (menos quatro feridos graves no total), entre as crianças até aos cinco anos o número subiu (mais quatro).

Neste mês de Agosto, a Rádio Comercial - que "patrulha" algumas estradas em colaboração com a GNR, nas suas "operações Stop" - vai oferecer prendas às crianças que sejam transportadas em segurança pelos seus pais. Aos condutores que não cumprirem as normas devidas será entregue um folheto informativo, com explicações sobre a importância de transportar correctamente as crianças. Como dizia o "spot" antigo: «Comigo os miúdos vão sempre no banco de trás.» E bem seguros, de preferência.


[* - nota: ao fim-de-semana, o LxRepórter recupera antigas reportagens, que de algum modo permanecem actuais]

22.3.07

[nota editorial]

Por diversos motivos, este blogue tem tido um ritmo menor de publicação de notícias. As nossas desculpas, aos leitores que nos procuram.

20.3.07

Postal desta Lisboa inesperada (IV) - mais um contributo dos leitores




















«Bebendo na Baixa»
O leitor António Paulino respondeu ao nosso desafio com várias fotos. Esta é mais uma das suas contribuições.

19.3.07

Quatro anos de guerra no Iraque assinalados em Lisboa

Os quatro anos da invasão do Iraque são assinalados esta terça-feira, 20 de Março, dia em que uma coligação de países, liderada pelos Estados Unidos e Reino Unido lançou uma ofensiva terrestre contra o regime ditatorial de Saddam, a partir do Kuwait, corria o ano de 2003.

Em Portugal, a data é assinalada com uma concentração no Rossio, em Lisboa, promovida pelo Conselho Português para a Paz e Cooperação, próximo do PCP, onde será feita uma proclamação que pretende, entre outros aspectos, exigir o fim da “ocupação”, “a plena soberania do povo iraquiano” e “nenhum apoio, nenhuma facilidade militar ou logística à política guerreira de Bush”.

Na sexta-feira, 23, é a vez da música, com um Concerto pelo Iraque, na Sala 1 do Cinema São Jorge em Lisboa, às 21h30. A iniciativa do movimento Tribunal do Iraque reúne em palco uma paleta abrangente de sons e estilos de música com Camané, Fausto, Jorge Palma, José Mário Branco, Luís Represas, Pacman (dos Da Weasel), Paulo de Carvalho e Pedro Abrunhosa.

Por fim, no sábado, 24, às 18h30, também em Lisboa, um debate na Casa do Alentejo, discutirá os cenários actuais que se colocam no território iraquiano e à diplomacia internacional, a partir das intervenções de Silas Cerqueira, António Louçã, Carlos Carvalho, Manuel Raposo e Rui Rosa.

18.3.07

Meia Maratona fecha ponte 25 de Abril, uma informação quase clandestina

A ponte 25 de Abril está encerrada este domingo de manhã, a partir das 9h15 até cerca das 12h30, nos dois sentidos, por causa da realização da 17ª Meia Maratona de Lisboa. Mas a informação é quase clandestina, não estando disponível em sites de organismos e entidades que, à partida, têm obrigações na gestão da informação deste tipo de acontecimentos.

O site oficial da competição omite esse dado, apenas disponibilizando informações aos concorrentes e participantes, enquanto que as autoridades policiais (GNR e PSP) não avançam qualquer antecipação do fecho deste importante eixo viário entre as duas margens. A Câmara de Lisboa também não tem qualquer alerta para o encerramento desta via no espaço reservado às notícias.

Só a Lusoponte, entidade gestora da ponte, disponibiliza a informação do encerramento. Mas mesmo no site da empresa pode não acertar-se à primeira: na página de "informações úteis", os dados são inúteis: referem-se a 2006 e outros anos anteriores. Apenas nas "novidades" se confirma a notícia - «Informamos todos os nossos estimados Clientes que no próximo Domingo, dia 18 de Março, a Ponte 25 de Abril estará encerrada ao trânsito a partir das 09h15 prevendo-se a sua reabertura para as 12h30, de modo a permitir a realização da 17ª Meia Maratona de Lisboa.»

A alternativa para o trânsito automóvel durante a manhã deste domingo será a ponte Vasco da Gama.

Páginas que citam este blogue
Link to this page and get a link back!