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17.3.07

Reportagens do baú*: Urgências hospitalares à beira da ruptura

[artigo originalmente publicado no PortugalDiário a 12 de Janeiro de 2004]

REPORTAGEM: Hospitais sem capacidade de resposta, médicos e enfermeiros insuficientes, doentes à beira de um ataque de nervos. Todos fazem o diagnóstico, mas não há um medicamento eficaz a curto prazo


As urgências hospitalares estão à beira da ruptura. O caos sucede-se, os hospitais não têm capacidade de resposta, os médicos e enfermeiros são insuficientes, os doentes ficam à beira de um ataque de nervos. Todos fazem o diagnóstico, mas não há um medicamento eficaz a curto prazo.

Na semana passada, em dois dias, a espera no Hospital Fernando da Fonseca (Amadora-Sintra) atingiu as 18 horas no sábado, dia 3, e 10 horas na quinta-feira, dia 8. Uma situação «habitual», admitiu fonte do gabinete de imprensa ao PortugalDiário.

Um hospital recente, como o Fernando da Fonseca, concebido para uma população de 200 mil habitantes, serve dois dos maiores concelhos do país: Amadora e Sintra. Nas urgências eram esperadas 200 pessoas por dia. Hoje, um dia «normal» significa o atendimento de 400/500 pessoas na urgência central. No dia 3 de Janeiro «houve um afluxo acima da média», agravado pela falta de um médico na equipa de urgência.

A culpa é dos doentes que não têm indicação para ir à urgência e que deviam procurar os centros de saúde, adiantam os responsáveis. «É preciso alertar as pessoas para que se dirijam aos centros de saúde», diz fonte do Amadora-Sintra, que «tem projectos desenvolvidos para as pessoas procurarem os seus médicos de família». Sem sucesso.

Hoje, muitos hospitais utilizam o modelo de triagem de Manchester, em que a velocidade de atendimento é determinada pela gravidade do caso, em detrimento da ordem de chegada. Assim, quanto menos grave mais se pode esperar para ser atendido. No Amadora-Sintra, explicou fonte do hospital, quem esteve à espera naqueles dois dias foram os doentes "azuis" (sem urgência) ou "verdes" (casos pouco urgentes).

No Hospital de Santa Maria, em Lisboa, num dos últimos dias de Dezembro, o tempo de espera na urgência central foi de cerca de seis horas. «Em Dezembro esteve mau, em alguns dias, agora melhorou», admitiu Oliveira Marques, director do serviço ao PortugalDiário.

O período da manhã é o melhor em Santa Maria, reconhece este responsável, «quando funciona a equipa fixa e os tempos de espera são mínimos». A partir das 15 horas, entram as equipas rotativas - «todas elas muito carenciadas» -, a afluência de doentes aumenta e cresce também a espera. De quatro a cinco horas, é o máximo que se verifica para os doentes menos graves ("verdes" e "azuis"), garante Oliveira Marques.

O modelo de equipas fixas pode ajudar a combater os longos tempos de espera porque esses médicos «estão todos os dias [no serviço], têm mais experiência e estão motivados», enumera o responsável de Santa Maria. Neste momento, o modelo não pode ser estendido a todo o dia: «Quando tiver o número suficiente de médicos» será possível prolongar o tempo de trabalho das equipas fixas. Para isso, «precisaria do triplo de médicos», admite Oliveira Marques.

Este é o problema onde tudo vai bater: «Há falta de médicos. De imediato, não há solução», diz. Resta «formar mais médicos» para evitar a ruptura definitiva nas urgências. Por enquanto, Oliveira Marques continuará a ter pouca resposta aos anúncios que coloca na imprensa à procura de clínicos externos para suprir as necessidades. Dinheiro para os contratar não falta. Falta é dinheiro para «dar incentivos de ordem económica». E mais importante, faltam clínicos: «Não há mercado para preencher as vagas do quadro».

[* - nota: ao fim-de-semana, o LxRepórter recupera antigas reportagens, que de algum modo permanecem actuais]

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