Um blogue de notícias, publicado por Miguel Marujo, jornalista com a carteira profissional nº 5950. O ponto de partida do repórter é Lisboa, mais como espaço físico onde se situa o jornalista, do que como único motivo de reportagem. Aqui não descobrirá a história ao minuto, mas uma tentativa de manter um olhar atento e, eventualmente, diferente sobre a Cidade. Envie-nos o seu alerta, a sua sugestão ou o seu comentário para mmarujo@gmail.com

30.4.07

Mais da Lisboa inesperada

O ritmo do LxRepórter tem sido muito irregular, por várias razões pessoais. Enquanto isso, deixamos esta nova imagem de uma Lisboa inesperada, do Rui Almeida, que já distribui poesia pela rua. Que outros nos façam chegar também os seus olhares sobre Lisboa (para mmarujo@gmail.com).



Indicação de trânsito para peões na Rua de Barros Queirós (que liga o Largo de S. Domingos à zona do Martim Moniz)

21.4.07

Reportagens do baú*: Direita é quem mais falta no Parlamento

[artigo originalmente publicado a 27 de Julho de 2005 no PortugalDiário e no jornal Metro]

POLÍTICA: Deputados «laranjas» faltaram 249 vezes ao plenário, mas os do CDS-PP são os que, em média, mais estiveram ausentes. Motivos vão da doença ao trabalho parlamentar. Estes números podem ajudar a discutir o actual modelo constitucional


O PSD é o partido mais faltoso nesta legislatura [2005], com os seus 75 deputados a totalizarem 249 faltas, em 40 reuniões plenárias e uma reunião da comissão permanente. Num só dia, curiosamente uma "ponte", a 27 de Maio, faltaram 55 parlamentares. Os deputados dos seis partidos faltaram 569 vezes com ou sem justificação. Há quem defenda que estes números podem ajudar a discutir o actual modelo constitucional. Esta quinta-feira, realiza-se a última reunião do plenário antes das férias.

Desde 10 de Março [de 2005], na abertura da X Legislatura, o único dia em que todos compareceram, os deputados sociais-democratas acumularam 249 ausências, os socialistas 222, os do CDS 50, os comunistas 27, os "bloquistas" 17 e os "verdes" quatro, de acordo com o Diário da Assembleia da República.

Em termos relativos, se o mal fosse distribuído por cada um dos assentos, os "populares" eram os mais absentistas, com uma média de 4,16 faltas por deputado, e os socialistas os menos - apenas 1,83 faltas por cada parlamentar (número que beneficia por ser o maior grupo parlamentar). Entre estes extremos, os partidos de oposição à esquerda têm médias que se equivalem: "Os Verdes" teria duas faltas por deputado, o BE 2,125 e o PCP 2,25. À direita, o PSD aproxima-se mais do CDS-PP (3,32 de média).

«Se fossem tecnicamente faltas, já teriam perdido o mandato», alerta Nuno Ferreira da Silva, chefe de gabinete do grupo parlamentar do PS. Um deputado que falte quatro vezes sem apresentar um motivo válido - que é «a doença, o casamento, a maternidade e a paternidade, o luto, missão ou trabalho parlamentar e o trabalho político ou do partido a que o deputado pertence», segundo o Estatuto do Deputado - perde o lugar.

O deputado do PSD, Virgílio Almeida Costa - que ocupa ex aequo o topo da lista, por doença («não é esse o meu percurso anterior como deputado», esclarece ao PortugalDiário) -, defende um debate sobre o actual modelo constitucional. «Um deputado serve melhor o eleitor a ouvi-los onde estão, ou a estar no plenário a bater palmas a coisas previamente decididas pelos directórios partidários», questiona.

O parlamentar "laranja" eleito por Braga duvida da necessidade de reduzir o número de lugares na Assembleia da República, como defende o líder do PSD, Marques Mendes. «Não é por aí que as contas estão desequilibradas. O número de deputados é adequado à realidade demográfica», defende. E, provocador, Virgílio Costa diz que acha ser «pouco relevante a presença hemiciclo e muito relevante o contacto com o eleitor».

Do PS, Ferreira da Silva entende que «os deputados são eventualmente os mais vigiados» no exercício da sua profissão e entende que as faltas se justificam por «trabalho parlamentar e político».

Se no topo, a doença afastou do plenário Virgílio Almeida Costa e a deputada socialista Matilde Sousa Franco (ambos com 16 ausências justificadas), a lista que se segue apresenta parlamentares que reivindicarão os mais diferentes argumentos para as suas faltas (o PortugalDiário procurou sem sucesso ainda ouvir as reacções dos grupos parlamentares do PSD e CDS): Gonçalo Nuno Santos, do PSD (15 faltas), Paulo Portas, do CDS-PP (14), Manuel Maria Carrilho e João Soares, do PS (12, por «trabalho político», segundo a fonte do grupo), e depois uma lista de seis eleitos com 11 faltas (Carlos Alberto Pinto, Dias Loureiro, José Cesário, José Luís Arnaut, Pereira da Costa, todos do PSD, e Jerónimo de Sousa, do PCP). Os ex-governantes do PSD, Jorge Neto e Paulo Rangel, não compareceram dez vezes, o líder do PSD, Marques Mendes, e o deputado do PS, António Vitorino, nove.

Da leitura do jornal oficial do Parlamento, ressaltam dois dias: a sessão do 25 de Abril, em que a direita optou pela ausência (28 deputados do PSD e seis do CDS), e o dia 27 de Maio, entre um feriado e o fim-de-semana, com 25 parlamentares socialistas absentistas, 25 "laranjas", quatro "populares" - entre os quais Nuno Melo, líder parlamentar, e Portas -, e um deputado do BE.


[* - o LxRepórter recupera algumas reportagens que permanecem actuais]

9.4.07

Postais de Lisboa: uma má prática na cidade


[esplanada do restaurante Pic-nic, no Rossio, em Lisboa, hoje às 13 horas; foto de telemóvel por MM]


Lisboa é uma cidade que vive de costas voltadas para o sol. Ao contrário de Paris ou Londres, onde é possível gozar esplanadas em dias improváveis, a capital portuguesa não parece tirar partido da magnífica luz que a cidade tem. Mas nem tanto ao mar, nem tanto à terra: há cafés e restaurantes que, por vezes, se julgam donos e senhores do espaço público, como demonstra a foto tirada hoje no Rossio.

Os responsáveis do restaurante Pic-nic entenderam por bem ocupar quase toda a largura do passeio, com mesas e cadeiras para aumentar a já generosa esplanada, em dia de muito sol e turistas, mas sem deixarem muito espaço para lisboetas e visitantes passarem, numa zona de intenso movimento pedonal. Restava a alternativa de dois estreitos corredores entre as mesas e entre estas e uma paragem do autocarro. Se esta ocupação for ilegal, lamenta-se a pouca celeridade da fiscalização camarária (tão lesta noutros casos, como o do cartaz dos Gatos Fedorentos), se for legal, mais se lamenta que a autarquia pactue com uma imagem tão desmazelada da cidade.

6.4.07

Reportagens do baú*: «Igreja tem de estar a 'full-time' na Internet»

[publicado originalmente a 23 de Dezembro de 2000 no PortugalDiário]

REPORTAGEM: Do padre-cibernauta às paróquias com neve ou aviões de jacto nas páginas de abertura, o panorama dos sítios católicos na rede desenhava-se assim em 2000. «Bem-hajais pelo vosso interesse»


«A Igreja tem de estar a 'full-time' na Internet». Quem o diz é o «padre Júlio», porventura o mais conhecido sacerdote-cibernauta do país, em conversa com o PortugalDiário. Júlio Grangeia, pároco em Travassô e Óis da Ribeira, duas freguesias do concelho de Águeda, disponibiliza todos os dias algum do seu tempo à navegação na rede, onde mantém uma página pessoal desde 1997, já visitada por mais de 37 mil pessoas.

A Internet pode ser um «meio alternativo ou complementar, não um meio exclusivo» de evangelização, adianta aquele padre. Também porque «o discurso oficial é cada vez menos compreendido» e o mundo da rede permite chegar de outras formas aos «paroquianos da aldeia global».

Para responder a dúvidas ou apenas conversar, muitos encontram-se num 'chat' (em #padres_online da PT.net) onde vários religiosos, incluindo uma freira espanhola, que se associaram a Júlio Grangeia, vão respondendo aos cibernautas curiosos. Muitos são «marginalizados» pelo discurso e prática da própria Igreja. Seguros no anonimato dos 'nicknames', todos podem fazer perguntas, «quando não encontram nos seus párocos» a abertura e proximidade para as abordar.

O bispo de Aveiro, a diocese de Júlio Grangeia, «compreende» a actividade cibernáutica do seu padre e entretanto convocou-o a dinamizar um grupo que informatize as paróquias aveirenses.

Em Novembro de 1997, os bispos portugueses aprenderam a navegar na rede, durante uma assembleia geral do episcopado. D. João Alves, bispo de Coimbra e então presidente da Conferência Episcopal, convidou os seus pares a conhecer as «auto-estradas da informação» com o objectivo de colocar cada região eclesiástica na Internet. Passados três anos, só é possível aceder a 11 das 20 dioceses - e as assimetrias do país, também se notam aqui: das dioceses 'off-line' a quase totalidade é do interior (excepto Viana do Castelo).

Na página da diocese do Porto é possível encontrar um fórum de «diálogo com o bispo», que privilegia por enquanto «o contacto com a Comunicação Social de âmbito nacional». D. Armindo Lopes Coelho «disponibiliza-se para responder às questões que lhe forem colocadas por esta via». Na página de abertura, aquele bispo apela a que se viaje «como amigos pelas auto-estradas da Internet, como parceiros da mesma causa em caminhos de tolerância e compreensão, de amizade e de paz».

Esteticamente muito simples, sem muita imaginação, a maior parte dos sítios limita-se a apresentar alguns dados históricos, o perfil e contacto de bispos e órgãos diocesanos e, eventualmente, alguma documentação (Santarém, por exemplo, ainda que não tenha página própria, disponibiliza uma carta pastoral do seu bispo sobre uma peregrinação diocesana a Fátima).

Júlio Grangeia diz que «os 'sites' são formais, muito estereotipados e pouco apelativos». Aquele padre refere que a Igreja portuguesa ainda «está a descobrir» este mundo, mas de uma «forma incipiente» - o que explicará, porventura, a fraca qualidade gráfica e de conteúdos da generalidade das páginas 'católicas'.

A linguagem mantém o arcaísmo próprio de uma instituição como a Igreja, que muitas vezes desconfia das novidades: «Bem-hajais pelo vosso interesse», agradece em tom solene o bispo de Coimbra na página de abertura da sua circunscrição cibernética. «Mais importante do que dizer, é a forma como se diz», alerta Júlio Grangeia, que reconhece «usar e abusar», por isso, de «formas menos canónicas» na sua página pessoal, como o diabinho (mais simpático, que diabólico) que remete para uma fotografia sua.

Na navegação do PortugalDiário, feita por estes dias, foram encontrados alguns pormenores quase anedóticos: uma paisagem de neve a acolher os visitantes numa página de uma paróquia alentejana ou uma fotografia de aviões a jacto a dar as boas-vindas aos cibernautas que 'aterram' em Vilarinho do Bairro, uma freguesia da diocese de Coimbra.

São 71 as paróquias registadas no directório «Paróquias de Portugal» (a última foi adicionada a 13 de Dezembro), uma porta de entrada possível. Uma página mais completa - e das mais conseguidas -, para aceder a este mundo é o 'site' oficial da Igreja Católica em Portugal.

A paróquia com a população mais jovem de Viana do Castelo, Nossa Senhora de Fátima, mantém uma sondagem sobre a necessidade de rever ou não a Concordata (o tratado que regula as relações entre Portugal e o Vaticano), polémica suscitada há largos meses pelo Bloco de Esquerda. E os resultados são concludentes, apesar dos escassos 21 votos: 76,1 por cento desejam a revisão daquele documento. Apenas 14,2 por cento recusam 'mexer' na Concordata e 9,5 por cento dos votantes não manifestam opinião.

«O pop-rock de mensagem cristã tem um nome» é como se apresenta o grupo musical Golgotha, que parece mais próximo de uma qualquer banda de heavy-metal a avaliar pela 'iconografia'. Para além da música, a Internet proporciona várias possibilidades aos mais apressados e que não têm tempo para entrar numa igreja. Há quem assegure uma oração diária on-line (em português) e quem absolva os seus pecados, num confessionário virtual (apenas em inglês).

Pelo mundo fora, as Igrejas locais adequam-se a esta nova possibilidade de chegar a mais gente. O Vaticano mantém um sítio adequadamente 'clássico', que possibilita ainda um passeio pelos seus museus. Outras páginas proporcionam uma informação mais variada ou especializada - como a lista de todos os santos da Igreja católica (com actualizações regulares devido à acção do Papa João Paulo II) ou dois centros de informações católicos na Internet (http://www.catholic.net/ e http://www.cin.org/).


[* - o LxRepórter recupera algumas reportagens que permanecem actuais. Nota: Alguns links já não estão a funcionar e os dados sobre outros estão obviamente desactualizados.]

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