Um blogue de notícias, publicado por Miguel Marujo, jornalista com a carteira profissional nº 5950. O ponto de partida do repórter é Lisboa, mais como espaço físico onde se situa o jornalista, do que como único motivo de reportagem. Aqui não descobrirá a história ao minuto, mas uma tentativa de manter um olhar atento e, eventualmente, diferente sobre a Cidade. Envie-nos o seu alerta, a sua sugestão ou o seu comentário para mmarujo@gmail.com

6.4.07

Reportagens do baú*: «Igreja tem de estar a 'full-time' na Internet»

[publicado originalmente a 23 de Dezembro de 2000 no PortugalDiário]

REPORTAGEM: Do padre-cibernauta às paróquias com neve ou aviões de jacto nas páginas de abertura, o panorama dos sítios católicos na rede desenhava-se assim em 2000. «Bem-hajais pelo vosso interesse»


«A Igreja tem de estar a 'full-time' na Internet». Quem o diz é o «padre Júlio», porventura o mais conhecido sacerdote-cibernauta do país, em conversa com o PortugalDiário. Júlio Grangeia, pároco em Travassô e Óis da Ribeira, duas freguesias do concelho de Águeda, disponibiliza todos os dias algum do seu tempo à navegação na rede, onde mantém uma página pessoal desde 1997, já visitada por mais de 37 mil pessoas.

A Internet pode ser um «meio alternativo ou complementar, não um meio exclusivo» de evangelização, adianta aquele padre. Também porque «o discurso oficial é cada vez menos compreendido» e o mundo da rede permite chegar de outras formas aos «paroquianos da aldeia global».

Para responder a dúvidas ou apenas conversar, muitos encontram-se num 'chat' (em #padres_online da PT.net) onde vários religiosos, incluindo uma freira espanhola, que se associaram a Júlio Grangeia, vão respondendo aos cibernautas curiosos. Muitos são «marginalizados» pelo discurso e prática da própria Igreja. Seguros no anonimato dos 'nicknames', todos podem fazer perguntas, «quando não encontram nos seus párocos» a abertura e proximidade para as abordar.

O bispo de Aveiro, a diocese de Júlio Grangeia, «compreende» a actividade cibernáutica do seu padre e entretanto convocou-o a dinamizar um grupo que informatize as paróquias aveirenses.

Em Novembro de 1997, os bispos portugueses aprenderam a navegar na rede, durante uma assembleia geral do episcopado. D. João Alves, bispo de Coimbra e então presidente da Conferência Episcopal, convidou os seus pares a conhecer as «auto-estradas da informação» com o objectivo de colocar cada região eclesiástica na Internet. Passados três anos, só é possível aceder a 11 das 20 dioceses - e as assimetrias do país, também se notam aqui: das dioceses 'off-line' a quase totalidade é do interior (excepto Viana do Castelo).

Na página da diocese do Porto é possível encontrar um fórum de «diálogo com o bispo», que privilegia por enquanto «o contacto com a Comunicação Social de âmbito nacional». D. Armindo Lopes Coelho «disponibiliza-se para responder às questões que lhe forem colocadas por esta via». Na página de abertura, aquele bispo apela a que se viaje «como amigos pelas auto-estradas da Internet, como parceiros da mesma causa em caminhos de tolerância e compreensão, de amizade e de paz».

Esteticamente muito simples, sem muita imaginação, a maior parte dos sítios limita-se a apresentar alguns dados históricos, o perfil e contacto de bispos e órgãos diocesanos e, eventualmente, alguma documentação (Santarém, por exemplo, ainda que não tenha página própria, disponibiliza uma carta pastoral do seu bispo sobre uma peregrinação diocesana a Fátima).

Júlio Grangeia diz que «os 'sites' são formais, muito estereotipados e pouco apelativos». Aquele padre refere que a Igreja portuguesa ainda «está a descobrir» este mundo, mas de uma «forma incipiente» - o que explicará, porventura, a fraca qualidade gráfica e de conteúdos da generalidade das páginas 'católicas'.

A linguagem mantém o arcaísmo próprio de uma instituição como a Igreja, que muitas vezes desconfia das novidades: «Bem-hajais pelo vosso interesse», agradece em tom solene o bispo de Coimbra na página de abertura da sua circunscrição cibernética. «Mais importante do que dizer, é a forma como se diz», alerta Júlio Grangeia, que reconhece «usar e abusar», por isso, de «formas menos canónicas» na sua página pessoal, como o diabinho (mais simpático, que diabólico) que remete para uma fotografia sua.

Na navegação do PortugalDiário, feita por estes dias, foram encontrados alguns pormenores quase anedóticos: uma paisagem de neve a acolher os visitantes numa página de uma paróquia alentejana ou uma fotografia de aviões a jacto a dar as boas-vindas aos cibernautas que 'aterram' em Vilarinho do Bairro, uma freguesia da diocese de Coimbra.

São 71 as paróquias registadas no directório «Paróquias de Portugal» (a última foi adicionada a 13 de Dezembro), uma porta de entrada possível. Uma página mais completa - e das mais conseguidas -, para aceder a este mundo é o 'site' oficial da Igreja Católica em Portugal.

A paróquia com a população mais jovem de Viana do Castelo, Nossa Senhora de Fátima, mantém uma sondagem sobre a necessidade de rever ou não a Concordata (o tratado que regula as relações entre Portugal e o Vaticano), polémica suscitada há largos meses pelo Bloco de Esquerda. E os resultados são concludentes, apesar dos escassos 21 votos: 76,1 por cento desejam a revisão daquele documento. Apenas 14,2 por cento recusam 'mexer' na Concordata e 9,5 por cento dos votantes não manifestam opinião.

«O pop-rock de mensagem cristã tem um nome» é como se apresenta o grupo musical Golgotha, que parece mais próximo de uma qualquer banda de heavy-metal a avaliar pela 'iconografia'. Para além da música, a Internet proporciona várias possibilidades aos mais apressados e que não têm tempo para entrar numa igreja. Há quem assegure uma oração diária on-line (em português) e quem absolva os seus pecados, num confessionário virtual (apenas em inglês).

Pelo mundo fora, as Igrejas locais adequam-se a esta nova possibilidade de chegar a mais gente. O Vaticano mantém um sítio adequadamente 'clássico', que possibilita ainda um passeio pelos seus museus. Outras páginas proporcionam uma informação mais variada ou especializada - como a lista de todos os santos da Igreja católica (com actualizações regulares devido à acção do Papa João Paulo II) ou dois centros de informações católicos na Internet (http://www.catholic.net/ e http://www.cin.org/).


[* - o LxRepórter recupera algumas reportagens que permanecem actuais. Nota: Alguns links já não estão a funcionar e os dados sobre outros estão obviamente desactualizados.]

1 comment:

ruialme said...

Miguel, valia a pena, pelo menos, actualizar os dados q constam da notícia.
E é pena q continuem a haver dioceses sem site (o Funchal, por exemplo, tinha um site até jeitoso e deixou de ter...)

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